DISPNEIA

Arimateia
é o  proprietário da Farmácia Miramar
a qual estar localizada cerca de dois quarteirões daqui de casa
e ele sofre de dispneia
há mais de vinte anos.

Maricleia
é a esposa do senhor Arimateia
ela diz que tudo iniciou-se a partir duma cefaleia
que o marido sentira na noite da sentinela
do sogro
por nome de Ogro.

Arimateia
vem batalhando pra dar cabo à dispneia
todavia tem sentido dificuldades
sua mente ou suas faculdades
já se encontram fracas
opacas.

Irineia
é a médica que acompanha o farmacêutico
ela declara que logo sumirá a dispneia
ele surpreende a doutora com a maiêutica
todo dia
todo dia.

Maricleia
prossegue um pouco incrédula
ao frisar que já não mais espera
e do jeitinho dela
fica calada
parada.

Arimateia
diz estar acostumado com a dispneia
porém piorou
depois que enfrentou a colmeia
a fim de comer
e mel vender.

Deoclécia
é a filha única do casal
é dengosa
vive medrosa
temendo a partida do pai
e diz que também vai
caso ele se vá.

Irineia
pede que a gente torça pra não atrair dispneia
pois ficar sem ar
é ficar fora do ar
é ficar sem respirar
é se acabar
acabar
acaba
acab
aca
ac
a.

EM ESTADO GRAVE

- Pessoal, estou há cinco dias na U.T.I.
e ninguém veio me visitar
no horário permitido
ou às quinze horas
acesso garantido.

- Gente, eu tenho dó de mim mesmo
comi um prato com torresmo
adquiri infecção intestinal
estou passando mal
por favor... chama a enfermeira
chama o médico
algo está fétido
chama o zelador
ai que dor!

- Amigos, estou desesperado no leito
sinto uma avalanche no peito
sinto ânsia
de morte
estou sem sorte
querem me dar um corte
perto do umbigo
e brigo
com todo mundo
igual um vagabundo.

- Queridos e queridas, eu estou enjoado
não suporto mais os diabos desses fios
enfiados no meu nariz
e o enfermeiro diz:
"fique calmo"
Mas como?
Nem como
sequer uma fatia
tenho fastio
estou em coma
que cheiro de acetona
nojento
enjoento.


- Povo brasileiro, estou cansado
de viver deitado
isolado
aguentando paciente abusado
desenganado
paciente leproso
outro dengoso
outro perigoso
outro nervoso.

- Caros leitores, eu prefiro a eutanásia
ou arriscar a vida pelos campos da Ásia
do que morrer aqui trancado nessa sala
com esses aparelhos ligados
com esses funcionários intrigados
às vezes amolecados
que nada levam a sério
mas querem me dirigir ao necrotério
em seguida ao cemitério.

- Colegas mais próximos, estou em estado grave
nunca mais assisti pela TV um conclave
nunca mais assisti pela TV um gol na trave
pois vivo perdido
vivo ferido
fiz exame
não é enxame
e acusou gastrite
úlcera
isso me dilacera
é como um serra
que me parte ao meio
que receio!

Senhores e senhoras, eu nunca pensei viver assim...
numa situação de chorar
quando algo parece me apertar
querendo minh'alma tragar
do jeito que acontecera aos judeus no Holocausto
(cerca de seis milhões)
os quais foram queimados
foram assassinados
sem defesa
gente indefesa
vinda da pobreza.

- BELISQUE-SE, MORDA-SE, ACORDE... CAIA NA REAL

Não perca mais tempo
Abra um livro
Comece a folhear
Deixe-se navegar
Nas águas dos sons
No oceano dos tons
E será muito mais gostoso
Enfrentar o mar tempestuoso
Subir nas asas dos versos
Comprar ingressos
Dançar nas linhas
Rodar nas entrelinhas
Ao ruído do vento
Defender o argumento
Defender a tese
No Montese
Quando vem a neblina
Liga o número
Observa-se a bina
Quebra-se o úmero
Nada-se no lago
Ao lado
Bem fundo
Bem profundo
Até puxar as divisões
Divisões silábicas
Vacinas antirrábicas
Pra quem estuda
Quem muda
Sai do poço
Dizendo: Agora ouço
O barulho das páginas
O sussurro das gotas plácidas
A visão biônica
Da sílaba tônica
Da proparoxítona
Do rosto piniforme
Algo disforme
Que comanda meu ser
Antes de ser
Escritor
Doutor
Já conhecia você
Como leitor
Então...
Belisque-se
Morda-se
Acorde seu corpo
Da preguiça
Deixe de encher linguiça
Acorde seu corpo
Do sono da negligência
Pois finda-se a paciência
Caia na real
Abandone esse mal
Anormal
Longe da leitura
Da literatura
- Criatura!
Eu te aturo
Dou um duro
Por ti
Até o fim.

REALMENTE NÃO MANDAMOS NO DIA DE AMANHÃ

Lembro-me como se fosse hoje
da sexta-feira
quando o meu pai fazia planos para o futuro
dizendo que iria comprar tijolos
para subir o muro
e o ambiente ficar mais seguro.

Lembro-me da boca de meu pai
falando em ganhar mais dólares
para construir um duplex
e alugá-lo ao Alex.

Meu pai fez uma dezena de planos em menos de onze minutos
dizia que... antes de partir (morrer)
gostaria de possuir
um carro
caro
uma tarrafa
uma garrafa
um terreno
com feno
uma chave de fenda
e oferenda
da venda
para dizimar
ou ofertar
na sinagoga.

Até parece que estou vendo agora meu pai sorridente
dizendo que precisava gastar seus tostões
enquanto era vivo
pois depois de morto
ficaria aí o telefone da Vivo
o carro zero
para o Nero
ou para o neto.

Ele dizia que precisava aproveitar
precisa se alimentar
antes de sucumbir
e ao céu subir.

Meu pai fez os planos na sexta-feira
adoeceu no sábado
passou o domingo
internou-se na segunda
e faleceu na terça-feira
antes da meia-noite.

LUTANDO CONTRA O ANALFABETISMO FUNCIONAL

Laura é uma mulher frustrada
Acha-se iletrada
Vive parada
Quase pirada
Angustiada
Irada.

- O leitor deseja saber o porquê de Laura viver assim
decepcionada
desmotivada?

Ela sabe ler
Ela sabe escrever
Mas não consegue compreender
Um simples texto
Falando de nove sextos.

Laura ler sílabas
Laura ler palavras
Laura ler frases
Laura ler textos
E não entende
se prende
soletra
mas não interpreta.

- O leitor estar com pena dela?
Eu estou
Pretendo dar umas aulas de reforço a ela
É um desejo que encontra-se aqui na goela.

O pior de tudo é que Laura convive com o irmão caçula
O qual também é analfabeto funcional
E para completar é analfabeto matemático
Daqueles bem fanático
tão apático
Apesar de simpático.

Em breve voltarei
Para te dizer
Que a Laura
Deu a volta por cima
Consegue interpretar toda a lauda
Com facilidade
Com responsabilidade
Capacidade...

DÂNDI

Bem que eu queria  ser um cabra que se veste
com extremo apuro
mas o escuro
deixa-me em apuros
e sem trabalho
eu me atrapalho
caio do galho
sujo-me todo
caio no cesto de alho
bato a cabeça no assoalho
soalho
só alho
fedo.

Tenho vontade de vestir roupas bonitas e elegantes
mas eu trabalho numa borracharia aqui do subúrbio
começo às sete e vou até às vinte e duas
findo o dia completamente sujo
da sociedade fujo
igual caramujo
que se oculta
na concha
com timidez
talvez.

Vem a preocupação em me vestir bem
só que a grana da prefeitura é igualzinha a carne de alma
que a gente tenta mastigar
dentada dar
quer rasgar
quer triturar
quer saborear
e nada
somente o espaço
que trapaça!

Roupas de qualidade são caríssimas
o dinheiro é pouco
viro porco
jogo-me na lama
caio na cama
fica imunda
no domingo
e na segunda.

Nunca fui dândi
nem sou ainda
porém poderei ser
assim como você.

UM POUCO DISTANTE DA INSPIRAÇÃO

Hoje a senhora inspiração viajou bem cedinho para outro planeta
acho que ela foi fazer algum curso para me ajudar nas criações
acho que ela foi se especializar em versificações
acho que ela foi buscar mais para completar minhas invenções
e haja coração!

A dona inspiração tem a mania de se mandar
sem me avisar
e fico aqui perdido sem companheirismo
sem protecionismo
sem entusiasmo
no marasmo.

Ficar sozinho remando o barco é nada mole
a gente vai lá e cá
bole e rebole
sofre deboche
planta o que colhe
sai quase nada
isso enfada
a fada
daí tiro a farda
falta estro
- Ok! Maestro!

Ausente da querida inspiração
meu mundo torna-se um trapo
levo um tapa
sigo uma tropa
faço uma troca
tiro uma cópia
do poema
do problema
porém é pobre
nada cobre.

Que volte logo a inspiração da viagem planetária!
Sei que ela foi tentar ficar bem longe da vida sedentária
só que esqueceu da responsabilidade de me ajudar
pois se não fosse a sua manzorra
eu nem me atreveria a falar duma cachorra
que morde gangorra.

DEITO-ME PARA DORMIR

Deito-me para dormir
o sono foge
quis sumir.

Deito-me para dormir
o sonho se esconde
onde?

Deito-me para dormir
vem a insônia
errônea.

Deito-me para dormir
o olho faz greve
leve.

Deito-me para dormir
o remédio não faz efeito
e aceito.

Deito-me para dormir
faz calor
falta humor.

Deito-me para dormir
tem muriçoca
e a pele coça.

Deito-me para dormir
não consigo
somente penso
penso
em sonhar contigo
não consigo
sonhar contigo
penso
penso
penso
em sonhar contigo
não consigo
sonhar contigo
penso
penso
penso
penso.

PREÁ

Parece que estou vendo a cara de muitos
Morrendo de rir
Ao ler o vocábulo "preá"
Pensando que foi invenção minha
Ou que estou a delirar.

Quantos jamais ouviram falar
De preá
E não procuram investigar
Pesquisar
Para aumentar
O vocabulário...

Fico tristonho
Ao notar pessoas preguiçosas
Viçosas
As quais querem que caia tudo do céu
Até a literatura de cordel
(...)

Preá deve ser alguma coisa que antecede a letra A
Pois possui o prefixo "pre"
Assim como pré-natal
- Alguém concorda
Ou discorda?
Posicione-se.

Eu não sou mau
Mas hoje evitarei o sinônimo
Não direi se preá
É animal
Ou planta
Ou alimento
Ou sentimento.

Fique a vontade
Descubra
Suba
Desça
Cresça
E conheça
O que é preá
- Pode arriscar.

CONSERTO OU CONCERTO?

Conserto é pôr em boa condição
o que estava desmantelado
com defeito
parado.

Concerto é harmonia
sinfonia
conciliação
reconciliação.

Conserto é reparo
de algo danificado
quebrado.

Concerto é um espetáculo
em que se executam obras musicais
tão legais
que você nem imagina.

Conserto é correção
do som
do tom.

Concerto é a consonância
de vozes no canto
e não no pranto
garanto.

Conserto é remediar
emendar
remendar.

Concerto e conserto
são homônimas
são homófonas
ambas são corretas
- Viu galera!

OLHO MÁGICO

Eu queria ser um olho mágico
para te dar segurança
no momento trágico
acionar ambulância
a fim
de evitar seu fim.

Eu gostaria de ser um olho mágico
para ser inserido no furo da sua porta
filmar o seu dia a dia dramático
quando tu comes torta
na mesa
exibindo beleza
em Fortaleza
com certeza.

Eu queria ter o poder do olho mágico
de ver quem tocou a campainha lá fora
saber se foi um monstro parecido com o aquático
aquele do desenho animado He-man que foi embora
mas ficou decorado
na memória
toda hora.

Eu amaria ser a lente do  olho mágico
ver tudo antes de abrir a porta
quando bater um matemático
com a boca meio torta
pegar a chave e o cadeado
não ficar assustado
nem nervoso.

Eu seria profissional como olho mágico
trabalhando em parceria com o interfone
deixaria seguro o povo nevrálgico
seria bem organizado assim como o cone
com a base circular
gerada pela revolução triangular
que me faz amar
sonhar
amar.

NAVIO NEGREIRO VERSUS GEENA

Gostaria de saber se o leitor está pronto para ver a competição
Entre geena e navio negreiro
- Prepare-se para o cativeiro
Quem vencerá?
Quem é mais cruel?
Quem tem mais gosto de fel?
Quem faz mais sofrer?
Quem faz mais morrer?

Geena arranca os olhos das almas
Enfia espeto na barriga
Cai lombriga
Feia briga
- Figa!
Iga!

Navio negreiro amarra escravos
Navio negreiro acorrenta negros
Esses dormem por cima dos escarros
Esses dormem por cima dos vômitos
Esses dormem por cima das fezes
Esses dormem atônitos
Durante "duradouros meses"
Que separam a África da América.

Geena lança seus prisioneiros no fogo
Escuta-se o grito de desespero do Diogo
Escuta-se o gemido da pobre Leonora
Que chora
Que mora
No além
- Hein!

Navio negreiro é escuríssimo
Sem ventilação
É crudelíssimo
Desumanização
É cheio de ratos
Espaço com baratas
Reinam os maus tratos
A fome deseja batatas
Porém sobram doenças
Maledicências
De homens
De adolescentes
De mulheres.

Geena queima gente no forno
Pendura os espíritos no torno
Chama o cliente de corno
E sem retorno
Pragueja
Céu
Igreja
Cristão
Sacristão.

Navio negreiro comercializa seus servos e servas
Os quais viajam enlatados, apertados igual conservas
Mais parecem aves presas nas caixas das granjas
Longe dos familiares
Há dias sem o sabor das canjas
Sentem falta dos lares
Dos ares
Puros
Sem apuros
Tamanha nostalgia
Letargia.

Geena suga o sangue dos cativos
Parece aspirador de pó
Que não tem dó
Da dor
Dador
Doador.

Navio negreiro com excesso de carga
Carga humana e não animal
Algo totalmente anormal
Quando fede o porão
De urina
De creolina
Que elimina
Não gasolina.

Geena que mete a peia nos miseráveis pecadores
Os quais se tornam eternos roedores
De ossos demoníacos
Dos maníacos
Dos hipocondríacos.

Navio negreiro
Sem banheiro
Rumo ao lucro
Negros mortos
No oceano
O sepulcro
O luto
Longe de velas
Nas caravelas.

- Então? Quem ganhou?
Quem promoveu mais sofrimento?
Quem produziu mais lamento?
Cabe ao leitor julgar
E não tenha pena
Da geena
Nem do navio negreiro
Que foi trampolineiro.

NÃO TENHO CULPA DE TER NASCIDO ASSIM...

Nasci sem braços e sem pernas

é por isso que ninguém me ver por aí batendo pernas
com a mente vazia
e quero dizer que...
nunca pedi pra nascer assim
desse jeito
jazido no leito
com dor no peito.

Nasci sem visão
sou doidinho pra assistir televisão
porém sou cego
guerreio com meu ego
nem posso ler poma
sem auxílio do Braille
sinto-me na paralisia
na monotonia
mas a verdade é que...
jamais lutei pra vir ao mundo assim.

Nasci sem um dos rins
alguns riem de mim
dizendo que minto
mas quem sabe o que sinto
sou eu próprio
que sou uma carta lida
dentro do envelope
e dou galope
dizendo pra todos ouvirem que...
não tenho culpa de ter nascido assim.

Nasci mudo
nasci surdo
tão miúdo
que os mosquitos me insultam
eles me imputam
apelidos
desmedidos
bullying
jargões
palavrões
gírias
ofensas
densas
e nunca
pedi pra
ser gerado
dessa
maneira.

Nasci com microcefalia
para completar tenho dislexia
e sofro como os africanos
que não têm água nos canos
não têm cálcio
não têm potássio
só que...
não lembro de ter pedido pra nascer assim.

Escrevo todo dia
escrevo poesia
escrevo toda hora
enquanto você ora
enquanto você implora
por mais verso
sobre o Universo
e sou fanático pela escrita
portanto não pedi pra ser assim.

CABISBAIXO

Eu me agacho...

Fico cabisbaixo
e nada engraçado acho.

De cócoras estou abaixo
não racho
nem me rebaixo.

Humilhado arregaço
o frágil tacho
do despacho
lá embaixo.

Abatido disfarço
sou baixo
nada faço
desfaço
o trabalho com aço.

Prossigo cabisbaixo
só o pedaço
um laço
um maço
masso
em março.

Pareço o cacho
sem água do riacho
perto da casa do Márcio
eu me despedaço
eu me esbagaço
amarrando o cadarço
e admirando Pablo Picasso.

Fui ao recinto do Cássio
lá vi o fruto do porongo ou cabaço
lá comi bagaço
vi cangaço
sofri do baço
quebrei o braço
topei contigo e seu traço
e deixei de viver cabisbaixo.

O MENINO PINDUCA

Pinduca era um garoto da zona rural
Ele viveu na seca em dia mau
E sempre fora doido pra viajar de avião
Porém não dispunha sequer dum carrinho de mão
Nem pensar em caminhão
Para pegar o volante na contramão
Em dia de verão
No sertão.

Pinduca assistia o jornal
O dia prosseguia mau
Olhava pro alto o avião
Via também o gavião
Desejava criar asa
Mas por enquanto só esperança
Pois não possuía nenhuma herança
Para comprar pelo menos um fusquinha
Um fusca de brinquedo
Para brincar bem cedo
Em meio ao bredo.

Pinduca continuou assistindo o jornal
O dia só trazia mal
Viu a cena dum menino passeando de camelo
Ele aproveitava para vender caramelo
Viu outro garoto andando em cima dum jumento
Aproveitou e fez um voto ou juramento:
"No dia que eu ficar grande
Vou-me embora pro Rio Grande
Lá procuro um emprego
Embora seja de galego
Então realizarei meu sonho
De voar sentado na poltrona do avião
Aquele bichão".

Pinduca procurava ser um menino normal
Não podia ver um burro correndo na estrada carroçal
Que subia logo na carroça puxada pelo animal
Que também enfrentava a sede do dia mau
Mas o pivete queria mesmo era avião
Pra voar bem altão.

Pinduca ganhou umas pernas de pau
Ganhou depois um esqueite
Pra voar na pista
Ganhou da madrinha um disquete
Depois uma mobilete
Depois uma bicicleta
Depois um patins
Depois uns patinhos
Porém o sonho era avião
Pra seguir rumo ao Maranhão.

Pinduca construiu um paraquedas
Era astuto
Tentou realizar o intuito
Subiu no telhado de casa
Levou uma queda
Quebrou as duas pernas
Caiu em cima das cisternas
Seus pais pegaram lanternas
Acharam o filho paraplégico
Declarado pelo médico.

Pinduca passou a andar em cadeira de rodas
Portanto o sonho não apagou-se
Deixou de lado algumas modas
Menos o desejo imenso de avião
Que sobrevoa o sertão.

NÃO ODEIO PESSOA GABOLA

Eu me dou bem com todo tipo de pessoa
até os infratores merecem uma segunda chance
os pobretões poderão receber moto em lance
os pichadores podem ser bons artistas
os marginais poderão ser frentistas
os preguiçosos hão de correr até à vitória
as piriguetes são capazes de mudar a história
caso haja metamorfose
caso haja transformações
diante a vida
e suas belas lições.

Não julgo ninguém para que não me julguem
nem sou o gostosão da estória
tampouco sou escória
mas libero perdão
de coração
para todos
pois antes de olhar os seus defeitos
olho-me no espelho
e me assusto
com o custo
de falhas
nas terras
nas malhas
canalhas.

Não consigo odiar os criminosos
os quais são readaptáveis
nem os péssimos poderosos
imagine o indivíduo gabola
que ama bola
ama futebol
é gabarola
ama handebol
gosta de biroba
ama beisebol
gosta de gabiroba.

Pouco entendo as pessoas odientas
que carregam veneno no semblante
são intolerantes
são negativas
imperativas
destrutivas.

Sei que é chato viver com a gabolice
só que pior é a maluquice
a esquisitice
a meninice
dos terroristas
anarquistas.

Caso eu encontre um colega gabola
uma conversa rola
a gente bola
de rir
de sorrir
até vir
o trem.

MORRI DE DÓ...

Vi uma sucuri dar o bote no bezerro
lá no aterro
e morri de dó.

Vi um gato agarrando com os dentes o calango
na hora do rango
e morri de dó.

Vi uma onça pegando o porco espinho
num minutinho
e morri de dó.

Vi um crocodilo gigante atacando a zebra
deu sim zebra
e morri de dó.

Vi uma raposa devorando a pobre da galinha
coitadinha
e morri de dó.

Vi um leão faminto pega e não pega o búfalo
episódio esdrúxulo
e morri de dó.

Vi uma cobra velha laçando o sapinho
que deu gemidinho
e morri de dó.

Vi um sapinho engolindo o mosquito
tão esquisito
e morri de dó.

Em todas as ocasiões
eu quis revidar
eu quis ajudar
eu quis matar
mas...
Uma voz me falou suavemente:
Foi Deus que deixou assim
foi o Criador que quis assim.

AI DE MIM SE NÃO EXISTISSEM OS LEITORES!

Sem leitores eu quebraria as canetas
e as jogaria no lixão
ainda que não estivessem secas.

Sem os olhos dos leitores
eu juro que...
Quebraria as teclas
pois sem recas
resta solidão
mornidão.

Sem a presença de leitores no planeta
talvez eu fosse um capeta
perambulando pelas ruas
sem as risadas suas
quando tropeçam em...
Versos engraçados
Versos desgraçados.

Sem os meus leitores...
- Escreveria pra que mesmo?
Escreveria pra quem mesmo?

Sem vocês (queridos e queridas)
nem me atreveria a versificar para o vento
ou para o tempo
os quais não pensam
não compensa.

Sem os leitores...
Eu não passaria de um vácuo
algo parecido com uma vaca
que atravessa a avenida com semáforo vermelho
e quase seria presa
por atropelar um coelho.

Sem meus (permita-me usar esse pronome de posse) leitores
os meus papéis estariam mofados
abandonados
- Escrever pra quê?

Sem os ilustres leitores
os quatro cantos da terra seriam vazios
pela falta de visão
pela ausência de olhão
que consome poesia
com emoção.

Sem os leitores e leitoras globais
eu nem pensaria em versejar
quando o melhor seria me calar
e ao invés de falar
melhor seria palrar
chalrar
parar
chorar.

Sem os milhões de leitores
sei que existiriam os doutores
porém seriam indoutos
pela escassez sentimental
algo anormal
fatal.

Leitores: Vós sois a razão dos fonemas
dos miúdos poemas
os quais se tornam gigantes
quando seus olhos brilhantes
veem
leem.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA

A gente escreve de tudo
Sobre escudo
Sobre estudo
Sobre felpudo
Sobre sortudo.

Ontem escrevi sobre o íon
Escrevi sobre o píon
escrevi acerca de píton
Escrevi a respeito de cátion.


Hoje é uma nova página da vida
Muitos não tiveram essa riquíssima oportunidade
De viverem
De escreverem
Agora
Na ágora
Neste exato momento
O qual jamais voltará
Pra gente digitar.

Então aproveite o instante presente
É um presente
Poder viver
Poder crescer
Lendo
Relendo
Conhecendo.

Antes de conhecer a Teologia Sistemática
Eu entendia pouco
Eu vivia rouco
De gritar
Ninguém me ouvia
Pois nada entendia
Do que eu falava
Tudo desorganizado
Tudo adoidado.

Depois que me deparei com a Teologia Sistemática
Abriu-se o leque de organização
Aprendi a lição
Arrumei a estante
Estou mais elegante
Mais galante.

Estudo a teologia doutrinal
Estudo a teologia dogmática
Estudo a teologia filosófica
Passo a passo
Organizadamente
Sem confundir a mente
Sem loucura
Sem tortura.

Talvez o leitor jamais ouvira falar do teólogo que citarei já já...
Mas ele foi sempre um exemplo para a minha pessoa
Quando li e reli seus livros
Incríveis...
Subiram os níveis...
Assim como os mísseis...
Falo de Antônio Gilberto
Consultor doutrinário da CPAD
(caso desconheça a sigla; desfrute do  poder da web)

HENA

- Você já viu uma hena?
Por favor! Não confundir com hiena
Pois estou me referindo a uma planta decorativa
Da qual é extraído certo corante
Usado por pessoa criativa
Que se garante.

Hena é uma planta com flores cheirosas
Tão mimosas
- Pense num perfume agradável!
Quem sente torna-se mais amável.

É uma espécie de planta usada como cosmético
Nas mãos
Das mães
Nos pés
Dos coronéis
Nas unhas
Dos Cunhas.

Bem...
Eu ia esquecendo
Do corante que é usado para tingir os cabelos
Os pelos
De castanho
De castanho-avermelhado
De vermelho
De baio
Não balaio
De laranja
A franja.

O corante também serve para fazer tatuagem
Qualquer imagem
Mas é temporária
Não é perene
Solitária
Na pele da Irene.

APROVEITANDO AS CHANCES...

Quando penso que eu poderia ser idiota
Quando penso que eu poderia ser agiota
Quando penso que eu poderia odiar letras
Quando penso que eu poderia usar de mutretas
Choro...
A Deus adoro
Pela chance de escrever
Enquanto tantos vieram a enlouquecer
Não entendem nada
Vivem acamados
Desacostumados
Do convívio social.

Aprouve ao Criador
Permitir meu nascimento
Permitir seu nascimento
Para juntos fazermos parceria
Isto é, eu escrevo
Você ler
Eu leio
Você escreve
Eu creio
Você também.

Caso eu não tivesse juízo
Seria tamanho prejuízo
Quando jamais alcançaria teu ser
Você nunca conheceria meu viver
Então seríamos inexistentes
Não seríamos insistentes
Na leitura de versos
Dispersos.

Ainda bem que sou sadio
Sou tardio
Mas não vadio
Sou um ser pensante
Que acha algo interessante
Para jogar aos pés dos leitores
Os promotores.

Aproveito as chances para escrever
Pois muitos vieram a adoecer
Outros vieram a morrer
E estou na ativa
Não igual ao Patativa
(friso)
Todavia tento
Busco talento
O computador está lento
Nem por isso o carro morre
Ele corre
Na estrada
Da vida.

DE OLHO EM VOCÊ

Ao amanhecer
lá estou
no metrô
no motor
só pra te ver
e dizer
que te amo
mais e mais
a cada ano
que se passa
- Que massa!

Ao entardecer
lá estou
no palco
sou cantor
falo de amor
ao te ver
falo da dor
sem te ver
por uma semana
pois viajaste
pra Havana
- Que bacana!

Ao anoitecer
lá estou
com insônia
sem te ver
falta melatonina
falta serotonina
nenhuma foto
Arroto
saudade
maldade
cochilo
um quilo
agarro no sono
sonho dizendo:
estou de olho em você
- Que prazer!

ÍON

Quase ninguém se importa com o átomo eletrizado que ganhou ou perdeu elétrons vistos na Química
Estou me referindo ao íon que por ser um pouco desconhecido também é desprezado pelos estudantes
Porém preciso divulgar uma grande verdade, a qual jamais alguém deve ter tido a coragem de dizer-te
Que... Muitos podem ou poderão desprezar o íon, mas... Eu pessoalmente sou e serei eterno amante...
                                                                     Ionização
                                                                          Ião
                                                                    Dissociação
                                                                     Ionosfera
                                                                     Eletrosfera
                                                                        Esfera
                                                                        Ânion
                                                                        Cátion
                                                                        Ânodos
                                                                        Cátodos
                                                                          Hodos
                                                                     Carga elétrica
                                                                     Hidrelétrica
                                                                        Positiva
                                                                        Negativa
                                                                       Molécula
                                                                       Benéfica
                                                                     Gás ionizado
                                                                      Organizado
                                                                       Plasma
                                                                      Fantasma
                                                                      Electrões
                                                                       Aniões
                                                                       Catiões
                                                                        Ione
                                                                         Ionte
                                                                       Italiano
                                                                         Iono
                                                                          Íon
Quase todo mundo agora irá se importar com o átomo eletrizado positivamente ou negativamente...
Depois de desfrutar deste poema escrito em forma de "i" que é uma homenagem ao famosíssimo íon
Responsável tanto pela energia de ionização como pelo poderoso potencial de ionização da Química
Peço encarecidamente que o meu querido leitor se deleite... Tomando leite...  ao ler essa boa mímica.

                                                                 
                                                               
                                                                   
                                                                     
                                                                   

ROUPA NOVA

Usar uma roupa velha, rasgada, suja, fedorenta, antiquada
Traz vergonha
Quando se vende pamonha
Quando se vende fronha
Quando se vende cegonha
No Mercado Central.

Usar uma roupa fora de moda, cheia de nódoa, pobre
Baixa o astral
Quando viaja-se em direção ao Pantanal
Quando viaja-se em direção a Blumenau
Quando viaja-se em direção a Bacabal
No mês de julho.

Usar uma roupa apertada, desajustada, apalhaçada, engelhada
Acaba com o conforto
Quando se visita o aeroporto
Quando se visita o porto
Quando se visita o horto
Na estação da primavera.

Usar uma roupa nova, cheirosa, limpa, chique, moderna, da moda, de marca, confortável, bela
Traz bem-estar
Quando vai-se ao cartório casar
Quando vai-se ao cartório testemunhar
Quando vai-se ao cartório assinar
Na manhã ensolarada.

EVITO MIXÓRDIA

Passo bem longe de confusão
prossigo no busão
fujo da mixórdia
- Misericórdia!

Pego outra rua
que não seja a tua
só pra evitar barraco
evitar sarrafo
mixórdia
discórdia.

Falou em briga
sou frágil como lombriga
uma simples liga
me prende
e não é mitologia nórdica
digo NÃO à mixórdia.

Espero a chuva serôdia
mas não espero mixórdia
que fere
que fede
não cede.

Evito mixórdia
nem um só dia
na sua companhia
mesquinha
mixuruca
caduca.


Melhor do que mixórdia
é construir paródia
poesia
cantoria
melodia.

BRASIL: TU ÉS RICO...

Veio um pirata e...
Desviou o pau-brasil
do nosso Brasil
gentil
varonil.

Veio um alienígena e...
Levou o açúcar
que servia para adoçar
o nosso chá
no lar.

Veio um parasita e...
Consumiu o nosso charque
no embarque
no saque.

Veio um tsunami e...
Arrastou o nosso ouro
nosso touro
o couro
o maior estouro.

Veio uma maré e...
Carregou o nosso café
deixando seca a xícara
da Chica
do Benfica.

Ainda com gosto de furto
eu curto
o Brasil gigante
elegante
potente
influente
contente
e... estico
rico.

QUATROCENTOS POEMETOS

De grão em grão a galinha enche o papo
de letras em letras o escritor enche o saco
de palavras em palavras o leitor espanta o vácuo
de frases em frases nós, em conjunto, tapamos o buraco
da camada de ozônio.

Aos pouquinhos
escrevo quatrocentos poemetos
acerca dos porquinhos
a respeito dos refains
sobre os anaquins
relacionados aos pinguins
aos benjoins
aos serafins
aos querubins
aos curumins.

Não são quarenta poemetos
são quatrocentos
depois quinhentos
logo após seiscentos
depois setecentos
oitocentos
novecentos
mil
milhões
bilhões
trilhões.

O que mais me importa não é a quantidade
e sim a qualidade
em escrever com sinceridade
simplicidade
para leigos
para gregos
para sábios
para sírios
para círios
para cílios.

São quatrocentos passos rumo ao ápice
usando caneta, papel, pincel, teclas, mouse, pena, lápis...
Nada consegue obstruir o sangue poético que escorre nas veias
e consegue alcançar as psiques alheias
lá na Bósnia
quanto na Califórnia.

O HOMEM DO BRAÇO MIRRADO

Estava eu andando pelas ruas da megalópole
Quando de repente... Barroei num senhor com semblante abatido
Esqueci do corre corre da metrópole
Esqueci do trânsito agitado
Esqueci do engarrafamento
Esqueci do atropelamento.

Eu e o senhor esquisito ficamos paralisados por dez minutos
Ele jamais tinha me visto e vice-versa
Ele não puxou sequer uma conversa
Então fiquei desapontado
Fiquei desorientado
E assustado
Corri.

Sentei-me num banco de praça da área conurbada
Minha cabeça tão perturbada
Não entendia nada
Do que se sucedia
E por que não entendia?

Sentado no banco
Olhei de soslaio para o senhor desconfiado
Ele todo atarentado
Completamente desnorteado
Olhava-me também obliquamente
E aquilo me deu cefaleia
Dor na mente.

O homem me olhava de um jeito estranho
O homem me observava com o olho castanho
E tive que disfarçar
Ao céu olhar
Desviar
O mirar.

Veio-me à mente que aquele indivíduo seria fugitivo do manicômio
Porém... Não correria o risco de julgar erroneamente
Vai que tratava-se dum ser dolente
Um espírito demente
Um paciente
Um cliente.

O leitor bem sabe que a mente da gente é mui fértil
Imagina algo febril
Imagina o brinde de abril
Imagina coisa inacreditável
Coisa maleável
Etcetera.

Briguei comigo mesmo
Queria saber o motivo da desconfiança do homem desconhecido
Queria saber por que o destino marcara o nosso encontro trágico
- Seria aquele sujeito um mágico?

Querido telespectador!
(risos)
Como batalhei para desvendar o mistério!
Eu quis abandonar o meu ministério
Eu quis descartar o diaconato
Eu senti-me pior que o rato
Quando fitei o meu olho verde direito
(falo direito por que enxerga melhor)
Direto no braço ressequido
Direto no braço encolhido
Bem no centro do braço consumido
Bem no fundo da ferida
Pus sal na ferida
Assim como nos poros do sapinho
Do Acaracuzinho:
Interior do Ceará.

Lembrei da cena de uma cachorrinha
A qual fora abandonada na rua por uma família
E a bichinha tem o olhar inseguro
Além disso é pé-duro
Dar o maior duro
Morando detrás do muro
Enquanto os donos estão no ar puro.

Pelo visto
Os seres vivos abandonados
E desprezados
Pela sociedade capitalista
Materialista
Consumista
Por unanimidade
Têm os olhos agachados
Desconfiados
Angustiados.

Se eu soubesse que aquela pobre alma humana
Carregava o complexo de inferioridade
Escondia o braço mirrado dos óculos da cidade
Jamais eu teria peitado
- Juro que...
(lágrimas)
Eu não teria rejeitado
Alguém que poderia ser eu
Um parente meu
Um filho seu
E confesso que o organismo adoeceu
Ao pensar que fui rude
Não fiz o que pude
Para acalentar
Para desabafar
Para desafrouxar
A dor
O terror
O temor
O horror
Do senhor.

TRIGÊMEAS: LARA, MARA E NARA

Vamos começar pela Lara
uma menina que não se compara
com essas safadinhas por aí
que andam se mostrando
andam se oferecendo
sem preservar-se
sem planejar-se
contra o sistema opressor
o qual oprime o castor
o qual deprime o pastor
de ovelhas negras
famintas
sedentas
extintas
às vezes
fedorentas.

Chegou a vez da Mara
que o nome já diz: Amarga
não tem vergonha na cara
é o antônimo de Buda
- Não se iluda!
É o demônio
não argônio
é a ilusão
não iluminação
é peralta
não pernalta
é traiçoeira
não parceira.

Falemos agora da Nara
um amor de pessoa
não pensa à toa
sonha ser milionária
morar na Itália
com a tia Natália
usar chique sandália
cursar faculdade
mesmo com dificuldade
pôr anel de formatura
pôr a faixa do curso na cintura
e depois angariar euro
euros.

Lara, Mara e Nara são trigêmeas
mas... o que mais me chama a atenção no trio
é que cada qual tem sua particularidade
ou seja, a Lara não dar um pio
a Mara é zoadenta
tão briguenta
enquanto a Nara também é gentil
nunca mentiu
sempre partiu
a mesada com as irmãs
alemãs.

Moral da estória:
Nem os dedos das nossas mãos
iguais são
não!

LEMBRANDO DOS IRLANDESES

Dirijo-me exclusivamente aos leitores da Ilha Esmeralda
Oferecendo-lhes com carinho esta lauda
Repleta de sentimentos
De  pensamentos
Bons
E os tons
Saem do interior
Com amor
Eu... Doo
Eu... Voo
Até vocês
Através das letras
Brancas
Pretas
Dos versos
Diversos
Não adversos.

Almejo que os versos penetrem os corações dos irlandeses
Os quais falam a linguagem dos ingleses
E que... Adentrem Dublin
Onde pretendo dublar
Jamais driblar
Os atores que visualizaram
Os artistas que valorizaram
A humilde poesia
Com bastante alegria
- Thank you!

Imagino-me poetando acerca da baía de Galway
Imagino-me digitando sobre May Day
Depois sigo em  direção à Bray
A fim de relembrar William Thompson
Ainda William Hamilton
Representes da cultura
Da escritura
Literatura.

Acredito que poucas palavras traduzem o meu pensar
Pensar nos irlandeses
Pensar nos irlandeses
Pensar nos irlandeses.

TENTANDO TE ESQUECER

Ponho uma canção
na voz do cancão
talvez eu te esqueça
antes que amanheça
ou adoeça.

Viajo para Mombaça
levando a cabaça
meio sem graça
vê-se te esqueço
pois tanto padeço.

Tento pensar noutra cara
mas tua fisionomia é rara
não se desmancha
deixou a mancha
deixou a marca
deixou a marcha.

Vou ao açude pescar
pois queria apagar
o teu nome da mente
jogando semente
como isca
e meu olho pisca.

Tomo acalmante pra dormir
eu quero desistir
não quero mentir
preciso te esquecer
senão vou perecer.

Quando durmo pra te esquecer
sonho com você
relembro bons momentos
voltam os pensamentos
e lá vem tudo de novo
meu povo.

Olho para o céu estrelado
como ovo estrelado
como ovo estragado
como ovo escalfado
como ovo chocado
mas não te esqueço
por um minuto
por um segundo
no cérebro fecundo.

Ligo a TV no filme
vejo as malignas cenas
a destruição dos indígenas
onde são arrancadas as penas
são queimadas suas urupemas
penso ter te esquecido
mas o fogo é aquecido
não consigo te esquecer
você fixa-se mais ainda.

Ajoelho-me para orar
procuro me ligar com Deus
porém lembro dos olhos teus
quando olharam os meus
e nossos lábios se bateram
eles se entenderam.

Escrevo quinhentos versos
talvez eu consiga te esquecer
não quero mais te ver
quero perecer
e chega o anoitecer
caio em teus braços
vice-versa
quantos abraços!

OLHO DE PEIXE

Quase ninguém dar importância ao olho de peixe
Que é tão delicioso
Que é tão gostoso
Juntamente com caldo
Ao vender dar saldo
No comércio do Naldo.

As pessoas dão importância ao olho de peixe
Que é uma verruga
Não é substância vermífuga
Nasce na planta do pé
- Bicho de pé?

Outros se importam com a lente olho de peixe
Usada em celular
Para se comunicar
Para telefonar
Para dialogar
Com Mianmar
Na Ásia.

O LOBISOMEM BRASILEIRO EM MOÇAMBIQUE

Noite de sexta-feira
noite de lua cheia
o ponteiro marca meia - noite
o lobisomem brasileiro atravessa o rio
em período de cheia
rumo a Moçambique
num clique
no pique.

Sai do Brasil
sai do país
sai da fronteira
dar uma rasteira
pisa em solo moçambicano
o lobisomem sul-americano.

O lobisomem brasileiro não rasga ninguém
ele não assombra... não veio do além
simplesmente deseja realizar antigo sonho:
Conhecer Maputo
Chibuto
Matoba
Nampula
Mocuba
Cuamba.

O lobisomem da América Latina é turista
visita o Parque Nacional de Gorongosa
evita achar qualquer carne gostosa
intrinca os dentes
não come as gentes
faz-se que não ver o elefante
todo fofinho e elegante
o búfalo
os golfinhos
os passarinhos
a tartaruga marinha
a tainha.

Certo rapazote banhava-se nas águas do rio Rovuma
na noite de lua cheia
quando de repente...
pega o pente
passa no cabelo
arranca a caspa
arranca a casca
da ferida
e fica ofegante...
ao deparar-se com o rosto do lobisomem brasileiro
o pistoleiro
o macumbeiro
o estrangeiro.

O fato mais interessante que aconteceu com o monstro conterrâneo
foi quando pôs os pés em Zambézia
e lá encontrou um homem doido e invocado
o qual mandou o lobo mau pular na falésia
ele ficou confuso pensando que fosse outro idioma
ele disse:
- Por favor! Não embroma!
Desconheço o dialeto moçambicano
assim entro pelo cano
no engano.

Explicando melhor:
O lobisomem americano não conhecia a palavra "falésia"
tampouco sabia que o português é falado fluentemente em Moçambique
o bicho nem sabe do que se trata alambique
nem trambique
imagine falésia
que rima com amnésia
com leite de magnésia.

Depois que o lobisomem retornou ao Brasil
descobriu que lá em Moçambique fala-se português
ele enganou-se seriamente pensando que fosse inglês
porém realizou o seu sonho que era conhecer Maputo
e ficou puto
ao saber que não pode mais virar
não pode mais a África visitar
não pode mais espojar-se no chão
pois levara um corte de facão
do homenzarrão
que vende pão
na virada
na madrugada
fatigada.

O TEMPO ANDA APRESSADO...

O tempo anda apressado
O tempo anda preocupado
O tempo anda voado
O tempo anda em alta velocidade
O tempo anda atropelando o povo da cidade.

O tempo não espera por ninguém
O tempo caçoa de alguém
O tempo vai pegar o trem
O tempo se manda dizendo amém.

O tempo não se atrasa
O tempo volta pra casa
O tempo volta às pressas
O tempo volta depressa
O tempo não quer conversa.

O tempo se manda
O tempo comanda
O tempo foge
O tempo é hoje
O tempo num piscar já é amanhã
O tempo não quer saber de fã.

O tempo se esconde
O tempo se vai do conde
O tempo se oculta do visconde
O tempo acelera
O tempo despreza a galera.

O tempo parece traiçoeiro
O tempo parece caloteiro
O tempo se evapora
O tempo evita servir de escora
O tempo esquece da caipora
O tempo usa espora.

O tempo anda apressado
O tempo vive estressado
O tempo está angustiado
O tempo continua enfezado
O tempo prossegue intrigado
O tempo corre
O tempo escorre
O tempo morre.

BEIJA-FLOR-ABELHA

Em 1999 conheci o menor pássaro do mundo
o beija-flor-abelha
o qual voava sobre a telha
sobrevoava a teia
a fim de comer uma aranha bebê.

Conheci o mirtes fanega na ilha de Cuba (no Caribe)
observei o simples comprimento ou cinco centímetros
observei o simples peso ou dois gramas
e pisei na grama
pisei no gramado
ele comeu insetos
diante os meus olhos incertos.

Fiquei perplexo com a miniatura
ou seja, a pequena criatura
sem estatura
sem altura
ágil
veloz
não atroz.

Fiquei confuso ao ver que o beija-flor-abelha
é do tamanho de meu dedo indicador
e que ele não sente dor
ao passar mais tempo na vida
voando
pelas florestas
pelos jardins
pelos jasmins
pelos pântanos
pelos vales
fugindo dos males
dos inimigos
dos falcões
das águias
dos sapos
fazendo manobras acrobáticas
sobrevoando para trás
arriscando-se no ar
tentando parar
mas consegue
com dificuldade.

Puxa vida! Como o beija-flor-abelha é engraçadinho!
Pousa na flor e se encanta com o cheirinho
depois se alimenta do néctar
depois vai amar
no luar.

GATINHA CALADA

A gatinha aqui de casa é o maior exemplo de paciência
ela fica morrendo de fome
não dar um piu
chamo-a pelo nome
parece que a fome sumiu
esquece da ração
da razão.

A gatinha Mimi permanece muda
mesmo mordida pela pulga
não diz nada
é bem comportada
mais do que menina velha danada
que sobe escada
derruba enxada
come empada
brinca de espada.

A gatinha parece ter esparadrapo na boca
pois vive cotidianamente em silêncio
discretamente se deita no compêndio
não se mete no perigo do incêndio
é tão educada
é castrada
não é amalucada
nem abusada

Mimi nem pensa em namoricar
devido ser gata de família
participa da homilia
sente o cheiro oriundo da galeteria
permanece igual estátua na galeria
engole saliva
dar água na boca
mas fica calada
fica parada
estagnada.

Tenho a impressão de que a língua da gatinha é colada
grudada
por que ela
não é tagarela
não mexe na panela
sobe na janela
não é gasguita
nem grita
faz micção na brita
bole com a cabrita
entretanto não fala
mas se cala.

Queria ser como a gatinha
ouvir mais do que falar
só assim evitaria palavra torpe
seria mais prudente
como a serpente
que planeja o bote
pra laçar o bode
e o caçote.

NUMIDA MELEAGRIS

Eu sou doido pra conhecer picota
capota
em Amazonas
naquelas zonas.

Sou doido para criar galinhola
galinha-d'angola
galinha-do-mato
sakué
cakuê
cocá
- Pode adivinhar?

Quero domesticar faraona
galliforme
pintada
fraca
vinda da África
angolista
- Que pista!

Queria provar o sabor de
guiné
capote
água no pote
trazida pelos colonizadores
portugueses.

- Tente acertar de qual ave falei
conhecendo apenas o título
o nome científico
seja crítico.

O LADRÃO QUE ROUBOU A CASA DURANTE A MADRUGADA

O ladrão vem e não avisa
somos pegos de surpresa
ele vem e amarra a presa
leva o relógio de pulso
leva o relógio de parede
leva o dinheiro
leva o cinzeiro
mas não consegue arrastar as demais riquezas:
A geladeira
a pãozeira
a penteadeira
a saboneteira
o armário
o dicionário
o espelho
o escabelo
o cabelo.

O ladrão de galinha vem e leva mesmo a galinha
o galo
o ralo
a franga
a franja
o pinto
o cinto
a pata
a gata
e dar uma rata
esquece o pardal
esquece o pedal
esquece a vassoura
esquece a tesoura
o fogão
o botijão
o feijão
o cão.

O ladrão chega de mansinho e de madrugada
pois sabe que a casa é alugada
sabe que é a hora do sono pesado
sabe que a casa tem empregado
que acorda cedo
vive enfadado
cansado
ronca
acorda
mas não dar bronca
com medo do três oitão
disparar bem no coração.

O ladrão de colarinho branco tem mais sorte do que o de galinha
por que pode roubar até mesmo o trem todinho na linha
pode esvaziar o cofre público
pode desviar bilhões
pode desviar milhões
pode sonegar imposto
pode assaltar a verba da saúde, do posto
e não dar em nada.

O ladrão elitizado ou intelectualmente refinado come o money do povo
e o povo é quem paga o pato
vendendo sapato
lavando prato
lavando roupa
lavando louça
para pagar o crime.

O ladrão que tentou entrar pelo telhado da minha casa não teve sorte
pois o miserável subiu o muro e levou um tremendo corte
em alguns vidros
quase viu a foice da norte
e ainda assim estavam atentos os meus ouvidos
às duas e meia da madrugada
quando os versos me livraram
a gatinha Cearazinha estava acordada
fazendo o papel de vigia
enquanto mia.

JUÍZO FINAL

Todos os perdidos, sem exceção, comparecerão no futuro

Perante o justo Juiz

E ninguém ficará em cima do muro.

Grandes e pequenos

Ricos e pobres

Fracos e fortes

Simples e nobres

Feios e bonitos

Altos e baixos

Vivos e mortos...

Todos não terão como fugir do Trono Branco

Todos serão réus sentados no banco

Olho a olho

Enfrentando Deus

Que julgará os pecados

Marcados

Marcantes

Repugnantes.

Alguns poderão se dizer inocentes

Porém o Juiz abrirá o Livro da Vida

Lá constará a imoral acusação

E muitos desmaiarão

Outros infartarão

Só que a morte fugirá

A Deus precisam encarar.

Chegam os mortos do mar

Chegam os mortos do lagamar

Chegam os mortos do inferno

Chegam os mortos do inverno

Chegam para serem julgados conforme suas obras

Quando agiam em vida igualzinho as cobras

E não tinham dó de furarem as pessoas com punhal

Deixando os familiares da vítima no funeral.

Quantos transgressores tentarão fugir

Mas não adiantará insistir

Quando o meritíssimo será o Ser onipresente

Onisciente

Onipotente.

Quem não tiver o nome escrito no Livro da Vida

Será lançado à força no lago de fogo

Para ser queimado eternamente

Eternamente

Eternamente

Eternamente.

Eternamente significa que nunca mais sairá de lá

Nunca mais sairá de lá

Nunca mais sairá

Nunca mais sairá

Nunca mais.

Aqui na terra (em vida)

O criminoso sofre na prisão

Mas existe alguma previsão

De libertação

Enquanto na eternidade

Jamais haverá fiança

Ou aliança.

No lago de fogo 

Haverá tormento

Haverá lamento

Haverá sofrimento

Haverá abrasamento...

Quem avisa amigo é

Amigo ver o outro caindo no abismo

Mostra a amizade verdadeira

Livrando-o sem egoísmo.

PONTO FRACO

Engraçado que todo mundo fica me entrevistando
o microfone fica me botando
ficam se mostrando
disfarçando
doidos pra saberem
doidos pra descobrirem
o meu ponto fraco
e qual é o de vocês?

Todos querem ouvir a falha da gente
mas não percebem os atos bons
nem os seus próprios defeitos
os piores eleitos.

Insistem na revelação do meu ponto fraco
dizendo que grito igual capote:
Tô fraco, tô fraco, tô fraco...

- O leitor gostaria de expor o seu ponto fraco
publicamente?
NÃO?
Então entenda minha mente
que não mente.

Certo dia levei uma beliscada
ou melhor, um beliscão
de uma doidinha querendo porque queria
que eu rasgasse o véu
e passasse a ser réu
descortinando o ponto fraco
- Ela me encheu o saco!

Sei que o leitor deve estar imaginando:
"Tomara que o JB Paiva não insista sobre o meu ponto fraco"
porém quero te dizer
que se você me disser
ganharás um belíssimo frasco
ou um churrasco
- Tu podes escolher.

Por enquanto o meu ponto fraco é escrever
seguido de te ver
ao amanhecer
ao entardecer
ao anoitecer
até morrer.

JAPÃO: QUANTA EMOÇÃO!

Esperei um tempão

Enquanto vendia pão
Pelo momento da visualização
Do pessoal do Japão
Com emoção
Arregalei meu olhão
E o coração
Ao ver a lição
Do montão
De leitores cristãos.

Amei a sombra do povo pacífico
O povo do Pacífico
Com espírito rico
Com tendências ao livro
A poesia
A liturgia
A melodia.

Escrever pra japoneses
Não é moleza
Podes ter certeza
Do que digo
Amigo.

Dirijo-me ao arquipélago
Falando da vontade de subir no Pégaso
Levar um soneto
Ao imperador
Levar um folheto
Pra cada leitor
Em forma de gratidão
Ao Nippon
Jomon.

Como não tenho ouro para ofertar
Dou fonemas
Dou poemas
Ao leitor de Yokohama
De Saitama
De Quioto
De Kumamoto
De Tóquio
Que me toque!

CARÁTER EQUILIBRADO

Sei das suas boas qualidades
Sei das suas más qualidades
Sei do seu caráter
Sei que praticas caratê.

Acho que caráter e ética andam de mãos dadas
Acho os dois parecidos
E jamais vivem enfurecidos.

Caráter também casa com livre arbítrio
Quando dispomos do poder de escolha
Cabe a nós assinarmos ou não o pacto na folha
Podemos afirmar SIM ou NÃO
Com razão.

O ser humano sábio
Procura o domínio próprio
Resiste o ópio
É óbvio.

Vejo em ti comedimento
Vejo entendimento
Vejo conhecimento
E consigo enxergar o seu caráter
Estampado no éter
Pintado de moderação
Motivação.

O demônio apareceu na minha frente
Implorando para que eu escrevesse textos com pornografia
Então assim ele se responsabilizaria
Em me dar status
Sucesso
Fama
Grana
Riqueza
Beleza...
Todavia usei a arma chamada caráter
O qual estava equilibrado
E o bicho saiu envergonhado
Acabrunhado
Decepcionado
Derrotado
(...)

Algo diz dentro de mim
(a voz da consciência)
Que nasci para ser benéfico
Escrever algo energético
Algo enérgico
Sem desviar-se do caminho
E mesmo digitando sobre cominho
O público é sapiente
O povo é gerente
Gente inteligente
Com poder de decisão
Com poder de aprovação.

CAJU

Ontem estive em Pacajus
Comi nove cajus
Tomei banho na lagoa Ipú
Relembrei Paiacu
Relembrei a tribo Tapuia dos Jaracu
Visitei Cumaru
Visitei Coaçu
Visitei Pajeú
E estarei em setembro no Festival do Caju.

Hoje como castanha de caju
Tomo suco de caju
Como doce de caju
Jogo pedra no cajueiro
Sou certeiro
Derrubo caju
E levo pra tu.

Amanhã estarei em Aracaju
Onde verei arara e caju
Onde tomarei cajuína
Onde há o Forró Caju
Ainda há Grageru
O morro do Urubu
O Terminal Zona sul.

BAMBURRAL

Conheço sinal
Conheço canavial
conheço bambual
conheço manguezal
conheço milharal
conheço melhoral
conheço pinheiral
conheço hospital
conheço espiral
conheço viral
conheço epitelial
conheço pedal
conheço pical
conheço Mical
conheço Sideval
conheço Sandoval
mas não sei do que se trata
bamburral.

Sei do jornal
sei do bornal
sei do curral
sei do anual
sei do anal
sei do peitoral
sei do tutorial
sei do setorial
sei da multinacional
sei de ornamental
sei de medicinal
sei do sinal
sei de carrascal
sei de internacional
sei de intencional
mas não sei do que se trata
bamburral.

Já vi coral
vi moral
vi zonal
vi editorial
vi carnal
vi canal
vi banal
vi bucal
vi bocal
vi sinal
vi animal
vi normal
vi anormal
mas não sei do que se trata
bamburral.

Descobri um chacal
descobri Chaval
descobri pantanal
descobri Genival
descobri gataral
descobri o mal
descobri o sinal
descobri renal
descobri cultural
descobri gutural
descobri bacanal
descobri global
descobri temporal
mas não sei do que se trata
bamburral.

Ouvi falar de aval
ouvi falar de oval
ouvi falar de bananal
ouvi falar de mural
ouvi falar de fatal
ouvi falar de cerebral
ouvi falar de festival
ouvi falar de carnaval
ouvi falar de Fortal
ouvi falar do sinal
ouvi falar de portal
ouvi falar de parental
ouvi falar de tribal
ouvi falar de parcial
ouvi falar de total
ouvi falar de bienal
mas não sei do que se trata
bamburral.

Entendo de cereal
entendo de pial
entendo de pombal
entendo de estrutural
entendo de varal
entendo de sal
entendo de tal
entendo de sentimental
entendo de dual
entendo de fanal
entendo de vertical
entendo de horizontal
entendo do sinal
mas não sei do que se trata
bamburral.

PALOMA PASSA DIAS SEM TOMAR BANHO. POR QUÊ?

Todo dia quando passo ao lado da residência de Paloma
a sua mãe Rita
grita
se irrita
e é gasguita
dizendo desse jeito:
- "Minina danada, vai tomá banhu
tudo o qui ganhu
é pra cuidá de ti
mas só recebo desobediênça
já se foi tua inocênça
tu já tem catorze anus
tá bom de criá vergonia
ou quer peia nos couro?"

Num dia desses da vida
fui à morada da Paloma a fim de conversar com dona Rita
a qual me disse que a filha fica até um mês inteiro sem banhar-se
e a cada dia muda a maneira de comportar-se
ou seja, parece cada vez mais rebelde.

A senhora Rita falou também que a Paloma consultou-se com o psicólogo
o qual nada viu de anormalidade na garota
a não ser a grande quantidade de ceroto
no corpo
meio torto.

Passaram-se os tempos
depois encontrei a Paloma num parque ecológico
e aproveitei para investigar sobre o andamento do caso
ela disse que estava à disposição para responder, é claro
então indaguei:
- Por que você, uma menina tão bela, passa dias sem tomar banho?

Paloma foi lá
e veio cá
ficou nervosa
ficou pavorosa
dizendo que falaria somente para mim
se eu guardasse segredo
pois morria de medo
da reação das pessoas grossas
mas acreditava em poetas
os quais disfarçam as conversas
através das rimas
dos versos brancos
das linhas.

Paloma com os olhos lacrimejantes
descarregou a mente
desabafou completamente:
- "Eu... evito me banhar
por que não quero enrugar
não quero espinhas
não quero pés-de-galinha
e me disseram que a água
retira o pH da pele".

SURINAME E SEUS LEITORES

Queridos leitores
Surinameses
São meses
Esperando por esse momento
De agradecimento
Por tê-los em meu rol de amigos
E... Ouçam os alaridos
Festejando a chegada
De vocês
De vez
Para ler
Reler.

Sei que falam holandês
Assim traduzem o português
Com seus olhares corteses
Viajam nas linhas
Viajam nas entrelinhas
Sem perderem o foco
Eu toco
O barco
E abarco
Vocês.

Versos povoam Paramaribo
Versos povoam a tribo
Akurió
Tiriyó
Javaneses
Surinameses
Chineses
Crioulos
Doutos.

- Viva a América do Sul!
Lendo a página azul
Verde
Amarela
Branca
Aquarela.

Grato à Suriname
Big name
Surinão
Coração
Lição
De leitura
De cibercultura.

QUERO IMITAR AS VOZES DOS ANIMAIS

Quero imitar a rã e o sapo que coaxam
quero imitar os filhos de papaizinho que se acham
quero imitar o grilo que cricrila
quero imitar a cobra que sibila
quero imitar a pomba que arrulha
quero imitar o peru que grulha.

Imito o chacal que uiva
imito o elefante que urra
imito o rato e a doninha que chiam
imito o gato e a gata que miam
imito o pinto e a coruja que piam.

- Vamos imitar juntos?
O camelo que blatera
a cegonha que glotera
o mosquito que zumbe
a abelha que zune
o javali que grunhe
o urso que ruge
a vaca que muge.

Faço-me de perdiz que cacareja
de rouxinol que gorjeia
de pardal que chilreia
de chasco que chasqueia
de burro que orneia.

Imito o melro que adora assobiar
imito o porco que gosta de roncar
imito a vitela que ama berrar
imito o cavalo que vive a relinchar
imito a cigarra que aprecia cantar.

Hei de imitar a águia que grita
hei de imitar o corvo que crocita
hei de imitar o galo que cucurita
hei de imitar o gavião que atita
hei de imitar o canário que trila
hei de imitar o tordo que trucila
hei de imitar o tentilhão que trina.

Imitarei o leitão que cuincha
imitarei o macaco que guincha
imitarei o estorninho que pissita
imitarei a andorinha que trissa
imitarei o pato que grassita
imitarei o pavão que pupila
imitarei o cachorro que ganiza.

- Vamos imitar mais uma vez?
O bode que bodeja
a garça que gazeia
o grou que grulha
o lobo que ulula
o cuco que cucula
o cão que rosna
o crocodilo que chora
o gaio que grasna
a ovelha que bale
o gamo que brame
a rola que geme
o cisne que arensa
o papagaio que palra
o homem que fala.

Preciso imitar a mosca que zoa
a raposa que regouga
o morcego que voa
- Que coisa boa!

- SAI DA PRISÃO, LUCIMAR!

A Lucimar está controlada por dogmas
Ela vive vigiada por um doberman
Ela vive acorrentada pela religião
Ela vive alienada pela falsa instrução
Mas quem salva é Cristo
E a coitada não enxerga isto.

Desde à puberdade que conheço a Lucimar
Ela nunca pôde sentir o sal do mar
Ela nunca pode sentir o sol do mar
Pois é dominada pela escravidão
Nem sabe que já houve a abolição
Nem sabe que já houve a libertação
Assinada pela princesa Isabel.

Como pode em pleno século vinte e um
A mente da Lucimar continuar atrofiada?
A mente da Lucimar continuar fechada?

O carrasco opressor adora domar
A alma da Lucimar
Longe do mar
Longe do lar
Familiar.

A Lucimar virou uma máquina, um robô
Lá a consideram como se fosse cocô
E ela é adulta
É responsável por sua conduta
Sua labuta.

Que Deus quebre as algemas dos punhos da Lucimar!
Que ela almeje criar asas para voar!
- Sai da prisão, Lucimar!
Sai desse ambiente putativo!
Cristo te dar o curativo!

CAMARÕES

Eu juro como sou caído por camarões
quando os pego de montão
eles viram um lanchão.

Eu admiro Camarões
com muita consideração
uma das grandes nações.

Aprecio o prato de camarões
encho o buchão
seco o bujão.

Hei de visitar Camarões
sua população
sua seleção.

Encho a boca d'água só em pensar nos camarões
preparados pelo Zezão
lá no sertão.

Gosto de Camarões
das canções
das lições.

No cardápio não pode faltar camarões
para encher barrigões
dos glutões.

Quando meus poemas forem lidos em Camarões
prepararei multidões
de versos por consideração.

CAINDO DA ESCADA

- Oi!
Vou subir
Cada degrau
Da escada da vida
Enquanto possuo vida
Tentando achar a felicidade
Tentando abandonar a ansiedade
A qual é irmã gêmea da ociosidade
E ambas procuram me derrubar lá do alto
Elas sabem bem que sou um poeta sem salto
Elas bem sabem que sou do bem... jamais assalto
Então se aproveitam da minha simples oportunidade
De sair correndo, subindo, progredindo, com sinceridade
Enquanto tenho tempo para planejamento, para agendamento
Depois imagino a cena subindo a famosa escada sobre jumento
Daí escrevo ou assino em papel branco o melhor dos juramentos
Penso que caminho na escada até o topo sem ninguém ver imagem
Penso que subo, subo, subo... e alguém faz a brilhantíssima filmagem
Depois escorrego, escorrego, deslizo, deslizo... vem o apoio do corrimão
Consigo me reabilitar tornando-me seguro como se fosse a veia do coração
Peço auxílio aos anjos protetores que sobem e descem na escada do seu Jacó
Porém eles estão todos em período de greve por tempo indeterminado até o gogó
Procuro olhar para os movimentos do mundo lá fora através dos furos do combogó
Procuro matar a "bernalda" avassaladora comendo uns dezesseis pedacinhos de mocotó
Logo esqueço de que sou ser humano à procura de descobrir o sentido da vida realmente
Em seguida vou deslizando, caindo, descendo, escorregando, descendo, caindo novamente
Até que compreendo o motivo da falta de êxito que foi a minha ambição em chegar logo ao topo
Pois a vida ensina que para subir... a melhor instrução é ceder, se humilhar ao invés de exaltar o corpo

DOIDO PARA ESCREVER

Estou no Centro
(bairro da cidade)
E como coentro
Às pressas
Bem depressa
Pra chegar logo em casa
Crio asa
Pouso
Repouso
Escrevo
Sobre trevo
Relevo
Digito
Dito
Mito
Poesia
Ortoepia.

Estou na festa nupcial
(da prima segunda)
Um pouco anormal
Tomo coca rápido
Como churrasco
Piso no cágado
Deslizo no casco
Piso no freio
Piso no acelerador
Sou feio
Sou escritor
Que não ver a hora
De chegar
No lar
Para escrever.

Estou no avião
(vindo de Bragança)
Nem noto o hidroavião
Que pega a contramão
Enquanto isso a minha mão
Pensa no sermão
Isto é, a vontade de escrever
Para você
Ler.

Estou no trabalho
(fábrica de cadernos, agendas, canetas, etc.)
E ralho
Com a chefe Cilene
Com a sirene
Que não apita
Enquanto meu peito palpita
Se agita
Querendo escrever
Digitar
Teclar.

Estou na academia
(aulas de musculação)
Parece epidemia
O desejo de voltar
Chegar
Banho tomar
Sentar
Escrever
Até amanhecer.

Estou na praia
(Náutico em Fortaleza)
Vendo raia
Vendo arraia
Mas o pensamento
Está atento
No raque
Craque
Que suporta o PC
Usado para escrever
Poemas
Sistemas
Esquemas.

Estou numa gruta
(em Ubajara)
E minha mente bruta
Abrupta
Sonha com a tela
Do computador
Onde conto a dor
Em formato de versos
Diversos
Sobre o Universo
Complexo
Perplexo.

Estou no amanhecer
(da terça-feira)
Doido para escrever
Algo pra você ler
Antes de perecer
E te dizer
"Amo te ver".

SUICÍDIO

Foi-se a época em que fui covarde
planejava suicídio
ao tomar veneno de ofídio.

Hoje aprendi a enfrentar os vampiros
sei admirar os lírios
e esqueci do suicídio
maldito.

Quem pratica suicídio
pensa livrar-se do terror
e não sabe que após a morte
poderá viver eterno horror.

Quem pratica suicídio
jamais entendeu ou entenderá o amor
pois nem a si mesmo amou
imagina o outrem
no além.

Deus me guarde de pensamento suicida
de pensamento patricida
de pensamento parricida
de pensamento matricida
de pensamento fratricida.

Jamais me pegarei com plano de suicídio
nem tampouco homicídio
ou genocídio
ou infanticídio
ou feminicídio.

Dois elementos me arrastaram (libertaram) do suicídio:
Cristo Jesus
morto na cruz
que é a luz
e...
a escrita
bonita
linda
poética
ética
dialética
(...)

SERÁ QUE USAMOS SOMENTE DEZ POR CENTO DO CÉREBRO?

Embora a gente use mais de dez por cento do cérebro
conforme declara a conceituada revista Superinteressante
eu acho muito interessante
fazermos uma discussão
quando formos pra excursão
em Pindamonhangaba
onde comeremos goiaba
no mês das férias
mês das feras
mês dos feras.

Acho bacana quando respeitamos as opiniões alheias
pois é triste quando nos tornamos exclusivistas
ou extremistas
e batemos o martelo
na cabeça do Marcelo
- É ridículo.

Caso a gente usasse apenas os dez por cento do cérebro
seria incrível
seria indescritível
o poder grudado em nós.

Imagine se usássemos cinquenta por cento
imagine se usássemos setenta por cento
imagine se usássemos oitenta por cento
imagine se usássemos noventa
- E cem?

Ainda que fossem praticados apenas os dez por cento do cérebro
o homem voa
o homem povoa
o homem cria pavoa
o homem sobrevoa
o homem clona uma varoa
o homem nevoa
o homem faz coisa boa...
Imagina vinte por cento
imagina trinta por cento.

Dizem que o uso dos cem por cento
ficou para os paranormais
para os anormais
os telepatas
os leitores de mente
os primatas
os médiuns
os que levitam
os adeptos da telecinese
da psicocinese.

Usando dez por cento (ou não)
já fico feliz
pois com essa percentagem
escrevo versos
escrevo estrofes
e envio aos países limítrofes
onde desfilam os leitores eruditos.

- Por favor! Opine!
Diga se você concorda ou não
com a porcentagem de dez por cento
ou talvez quarenta por cento
a qual usamos em relação ao cérebro
e seja célebre
enviando a resposta para:
jbneto@rocketmail.com
(lerei com prazer).