CATARINA É A MENINA MAIS MEDROSA QUE PUDE CONHECER

Catarina é minha sobrinha
Tem simplesmente seis anos de existência
É filha da minha irmã mais velha
Que adora figuras de caravela
E detesta amiga que segura vela
Nos momentos de namoricos da vida.

Jamais imaginei
Que seria tio da menina mais medrosa do século XXI
Isto é, a Catarina
Que tem medo de lamparina
Tem medo de cartolina
Tem medo de brilhantina
E da gasguita Carolina
Barraqueira
Trambiqueira.

Catarina morre de medo da escuridão noturna
Pra ela é a maior tortura
Quando escuta o grunhido do lobisomem
Quando escuta o rasgo da coruja
Quando escuta a pisada da alma suja
Quando escuta o grito da raposa
Quando escuta o barulho da mariposa
Quando escuta o canto melancólico da mãe-da-lua
Quando escuta a carreira da matinta pereira nua.

Catarina tem medo até mesmo do vento
Treme-se toda ao ouvir o ar em movimento
Fica encolhida ao ver minha achatada venta
Não se familiariza com meu par de ventas
Daí faz o maior escândalo nas noites sem luz lunar
Pensando que vem o bicho-papão
Que vai aparecer o merimão
(monstro tenebroso)
Ou quem sabe o boi-da-cara-preta
A cobra-preta
Que mama na teta
Da mulher de resguardo.

Catarina tem medo de ladrão
Do cidadão
Do estuprador
Do vendedor
Da bêbeda
Da labareda
Do palhaço
Do cangaço.

Catarina parece muito com o Iago
Pois tem medo também dos plutocratas
Tem medo dos piratas
Tem medo da violência
Tem medo da inocência
Medo
Medo
Medo.

Reflita: Estamos formando uma geração de medrosos
Os quais governarão
Futuramente a nação
Possivelmente sem noção
Talvez sem razão.