ÁGUA NA BOCA

Abro o dicionário
Dou de cara com mil palavras diferentes
Falo com meus queridos clientes
Pego a caneta
Pego o papel
Tiro o chapéu
Começo a escrever
Com água na boca.


Abro o PC
Navego na web
Vejo uma imensa lista de vocábulos inéditos
Encho a boca d'água
Não posso ver páginas
Dar vontade de escrever
Para você ler
Até anoitecer.

Abro a agenda
Lá encontro frases que me inspiram
Penso nas criaturas que suspiram
Faço versos
Sobre os perversos
Enquanto a minha boca enche-se de água
Quando ouve falar da escrita.

Abro a caixa de cartas
Encontro textos amorosos
Encho a boca d'água outra vez
Escrevo poemas todo o mês
Não resisto escrever
Amo escrever.

Abro o jornal em folha
Bato o olhar na coluna de opiniões
Elas mexem com o coração
Sinto emoção
Surge água na boca
Pego o lápis
Chego ao ápice
Do mundo da redação
Da narração
Da dissertação
Da descrição.

Abro-me por dentro
Não sou detento
Encho a boca de água
Foge a mágoa
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
Escrevo
(...)