Não nasci mudo
nasci com língua
que lambe
que fala
que se cala
que protesta
que silencia
depois volta
dar revolta.
Querem costurar nossas bocas
para morrermos de fome
de sede
sem nome.
Com as bocas coladas
apenas engoliremos a saliva
sem poder cuspi-la
despi-la
depila
o olho
a pupila
da Camila.
Deus quis nos inventar com voz
para arrebentar no microfone
no megafone
no telefone
no fone.
Nós humanos usufruimos do monopólio da fala
diferente do papagaio
que palra
chalrea.
Conversar é um direito
opinar é delicioso
até que fique amargoso
quando botam esparadrapo nos lábios da gente
como se fôssemos bichos.
Mesmo com os beiços selados
poderemos uivar
poderemos gritar
nos agitar
para o globo escutar
e reagir.
Querem nos calar
E pobres de nós
que não temos poder
de barrar ninguém
de calar ninguém.
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