CASTIGO

 

Envelheci

adoeci

a ponto de pedir

a morte.

Perdi os dentes

eles ficaram doentes

caíram

sumiram.

Fiquei cego

nada enxergo

pisei num prego

quase bato as botas.

Sofro do coração

do pulmão

falta-me ar

falta-me paz

para continuar.

Morro de dor no joelho

brinco com o coelho

mas dói tudo.

Estou quase surdo

ouço 

pouco

e entendo

as coisas

erradamente.

Minhas mãos andam trêmulas

acho que tenho parkinson

vou procurar o médico

o doutor Jackson.

Esqueço facilmente 

talvez seja alzheimer

os sintomas denunciam

eles anunciam

o mal.

Falta força nas pernas

detesto cadeira de rodas

não ando mais na moda

- Que tristeza!

Parece que estou caducando

eu estou me desmanchando

quando a velhice chegou sem dó

querendo me transformar em pó.

Saudade tenho da juventude

achava que seria eterna

mas vi a vovó paterna

ficando enrugada

e aleijada.

Agora chegou minha vez

passa o mês

vou enrijecendo

ou melhor... enfraquecendo

com ossos frágeis

e a voz arrastada.

A vida me castiga

pago por meus pecados

os quais não foram perdoados

ainda.