Eu me chamo olho
Olho para você
Todo minuto
Todo segundo
E vejo o mundo
Como uma gota
Num balde d'água.
Eu sou um olho diferente
O meu olhar prescruta a mente
Vejo muita gente
Pra lá
Pra cá.
Olho a natureza chorando
Contemplo um feto implorando
E não consigo me conter
Começo a reivindicar
Passo a chutar
O ódio
O terrorismo
O egoísmo.
Sou um olho
Todavia, às vezes, me pergunto se...
Realmente sou olho mesmo
Se enxergo direito as coisas
Ou me faço de esperto
Na hora do aperto
Da humanidade
Que escravizada
Pede socorro
E diz:
- Eu corro
Ou morro!
Vinte e quatro horas de olho em você
E ainda assim... nem te conheço
Eu pareço
Um babaca
Um panaca.
Oxalá que pudéssemos nos abrir!
Rasgar corações
Arrancá-los do peito esquerdo
Coar as hemácias
Depois fluirmos
Por que não fruirmos
Nas asas das pupilas
Íris esverdeadas
Rostos pelados
Queixos marcados.
Nunca me cansarei de te olhar
Um sorriso sincero
Uma vida de império
Um sacrilégio
O maior privilégio:
"Descrever colégio".
Sou um olho meio difícil
Pois algumas vezes escrevo um pouco complicado
Você não compreende
Não entende
Daí pula do edifício
Cai no vazio duma garrafa pet
Depois repete
A mesma cena
Que pena!
De olho em você
Eu me alimento
Encho o pensamento
Ando léguas
Construo tréguas
Meço com réguas
A distância de seus dois olhos.
Ao pesquisar seu par de olhares
Perco-me todinho
Fico caladinho
Desfrutando da beleza
E outra vez...
Esqueço que sou olho
Olho para o horizonte
Vejo o monte
Uma ponte
Que me levará à tua sobrancelha.
Caio na realidade
Lembro-me de mim próprio
Sou envelope
Sou a visão
A cosmovisão
A televisão
Que desenha uma paisagem
A mais linda imagem
Já vista.
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