Sou Maria da Penha Salitre
Tenho noventa anos de vida
Moro em Capitão Poço
Estado do Pará
E confesso que não quero parar
Por isso escrevo essa mensagem
Pois ainda pretendo viver de viagem.
Estou doente com o coração crescido
Minhas pernas estão inchadas
Abandonei as enxadas
Abandonei as plantações
Todavia não largarei as canções
As poesias
As melodias.
Às vezes choro de dor
Choro de saudades dos parentes
Morro de vontade de rever alguns cearenses
Porém falta-me energia
Há a escassez de companhia.
Olho o avião voando
Ele está passando
Imagino-me no aeroporto
Vejo-me no porto
Perto de meus colegas
De meus familiares
Tão distantes.
Todos os filhos se casaram
Todos se foram
Fiquei completamente sozinha
Limpo com dificuldade a casinha
Algumas vezes passo fome
A gordura some
A ossada aparece.
Queria me transportar
Queria ao Pecém chegar
Mas... a distância me aprisiona
As lágrimas me consomem
Até quando
Não sei.
Depois que o Toim se foi
Joguei as alianças no mar
Não quis mais saber de ninguém
Vivo feliz assim mesmo na solidão
Nenhum mal atormenta o amor do coração
Apenas o inchaço
O qual começou em março.
Posso até morrer logo
Só que já vivi o suficiente
Estou em paz da mente
Plantei semente
Colhi frutos
E doei aos brutos
Aos matutos.
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