Eu me chamo Fernanda
Sofro de câncer
Vivo um inferno
Logo mais agora no inverno
Que faz frio
Morro de tremer
Nem sei mais o que é viver.
Depois da descoberta do mal
Jamais tive paz
Jamais tive sossego
Quando meu lar virou hospital
Uma rotina de quimioterapia
Esqueci até da miopia
Da monotonia.
Não vivo mais
O sofrimento é demais
E as pessoas se afastam de mim
Pois têm medo de pegar a "coisa velha"
O bicho de sete cabeças
O qual corrói meu ser
Rói meu seio
Como se fosse ferrugem.
Não desejo o câncer pra seu ninguém
Eu não sou mais alguém
Eu vivo um vai-e-vem
Horas dentro da ambulância
Horas dentro do quarto com ânsia
Deve ser a ânsia da morte
A velhinha da foice
Que me rodeia
Dia e noite.
Quando descobri...
O tumor já estava bem enraizado
O doutor fez a cirurgia
Porém me desenganou
Ele não me enganou
Mas... falou a verdade
Disse que apenas um milagre
Poderia me salvar
Das garras do terror.
Às vezes deito pra dormir
Todo mundo ronca
Enquanto vejo a noite toda
A alta madrugada
Minha vida atolada
As esperanças atrofiadas
O desejo de partir logo
O mais rápido possível.
A cada dia que se passa
Não melhoro
Somente pioro
Apesar de ser otimista
Eu creio no cancerologista
Quer dizer: Creio em Deus
Creio no milagre.
À tardinha me ajoelho
E agradeço a Jesus
Por mais um dia vencido
Mais um dia de vida
Enquanto tantos sumiram
Tantos sucumbiram
Tão depressa.
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