Parece que fui castigado
estou humilhado
por causa do pecado
e sofro um bocado.
Nem posso engolir direito
que dói
que rói
- Ai!
Estou proibido de falar
nem consigo cantar
nem gaguejar.
Penso em gritar
a dor vem correndo
a ferida se assanha
ela arranha
a parede do paladar
- Ai!
Peço socorro
senão morro
mas ninguém me ouve
não como couve
pois bole com a inflamação
na língua.
É horrível o meu sofrer
parece que irei morrer
deixarei de viver
perto de você.
Não posso beijar
nem gargarejar
pois mexe com o ferimento
não mais me alimento
fico magro
pálido
doente
da mente.
Escondo-me da medicina
espero as pisadas dum milagre
talvez venha do Acre
- Sei lá.
Só sei que não posso mais dar gargalhadas
nem pensar em fofocas
nas focas
que atravessam a rua
quase nuas
e caem nas fossas.
Essa ferida na língua
tornou-se amiga duma íngua
e ambas permanecem
elas não perecem
elas insistem
no meu fim.
Ainda bem que usufruo do direito de escrever
e assim denuncio o terror desse mal
o qual...
me atormenta dia e noite.
Enquanto os milhões de leitores fincam seus olhares nas linhas
eu me arrebento
eu me torço
no calabouço
sentindo dor
- É osso!
Clamo a Deus
Ele abre a janela do céu
avisando que me ouve
e diz:
- Louve.
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