O APAGÃO

Ontem sofri o apagão
Precisei ligar o lampião
A fim de expulsar a negridão
Aqui em meu casarão
Do sertão.

Acendi uma vela
Meu irmão a lanterna
Ninguém saiu da caverna
Ou da taberna
Com medo do urso que hiberna
Na noite de sentinela.

Em meio à escuridão
A gente sente o apertão
Em nosso coração
Em nosso pulmão
Onde pomos a mão
E nada de claridão.

Vi a luz do celularzão
Acendi o fogo do fogão
Soltei um balão
Procurei ilusão
Achei a sensação
De solidão.

Detestei o apagão
Pois pisaram em meu pezão
Fui mordido por um canzarrão
Picharam meu carrão
Dei-lhes um carão
Eles foram presos no camburão
Levaram lapadas no bumbunzão
E depois pediram-me perdão.

Sem a luz da lamparina ou do lampião
Nós ficamos na maior decepção
A gente não pode preparar o pirão
A gente não pode assar o peixão
E ficamos sentados pelo chão
Ouvindo o menino chorão
Que tem medo do "Merimão"
O bicho-papão
O monstrão.

Que Deus nos livre doutro apagão!
Que nós não sejamos postos em nova prisão!
Que no escuro não pisemos no escorpião!
Que seja preservada a ponta de meu narigão!