Viajei para a cidade de meu tio
Fui visitá-lo
Pois há tempos que não o via
Nem ouvia
Suas estórias engraçadas
Sobre o passado.
Chegando lá
Pude almoçar
Pude conversar
Pude lanchar
Pude gargalhar
Pude gargarejar
Pude a saudade matar.
De repente... Lá vem a noite sombria
O dia deu adeus
Eu disse "tchau"
Quis passar mal
Ao ver um retrato de morto num quadro
Pendurado na parede da sala.
O tio Vicente pôs a rede na dita sala
Tive saudade do meu quarto na capital
Onde sinto o vento vindo do quintal
E não tenho medo de nada.
As luzes foram apagadas
Mas a foto ficou estampada
Tanto no quadro
Quanto na minha mente
Bem consciente.
Confesso que não consegui grudar os olhos
Eu não dormi
Por que toda vez que olhei para a imagem...
O morto sorria
O morto se mexia
O morto piscava as pestanas
O morto fazia caretas
O morto segurava moletas
(...)
Foi a pior noite da minha vida
Amanheci sonolento
Amanheci enjoado
Amanheci enfezado.
O titio colocou a merenda na mesa
Mas o quadro assustador não largava a minha cabeça
E me aperreei
Querendo voltar logo para casa
Queria criar asa
Sair logo daquele terror
Que horror!
Prometi pra mim mesmo:
- De outra vez que eu for dormir no lar do tio
Virarei aquele quadro ao contrário
A fotografia do defunto ficará de cara na parede
Então dormirei na rede
Até o galo cantar
A hora de levantar.
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