COLOCANDO-ME NO LUGAR DA DONA DE CASA

A mulher que cuida de uma casa
pode ser considerada uma heroína
ou uma guerreira
de primeira.

Algum dia atrás
pedi a certa mulher para substituí-la
somente durante um turno
e ela aceitou o desafio
ficou sem dar um pio
apenas observando.

Peguei no cabo da vassoura
todo sem jeito
pus a mão no peito
varri, varri, varri...
O vento espalhou o lixo
eu o esculhambei
depois me zanguei
com o menino se arrastando pelo chão
derrubando as coisas da penteadeira
comendo tudo da geladeira
sujando tudo
quando eu acabara de passar o pano no piso.

Pus água no fogo para ferver
preparando o almoço
e o moleque fazendo o maior destroço
pegou o cesto do lixo
derramou bem no centro da cozinha
então eu disse: Ah coisinha!

Fui olhar a panela no fogão
o caldo derramara com feijão
estava tudo sujão
até o botijão
e tive que limpar de novo
aí quebrou-se um ovo
foi o pior fedor
e a dona da casa sorria.

Dei o mingau do bebezinho
troquei a fralda
ele fez cocô
troquei a fralda
ele mijou
troquei a fralda
e alguém ainda malda
dizendo que doméstica não faz nada.

Agora senti na pele o sofrimento da dona de casa
a coitada só falta enlouquecer
e eu quis morrer
em apenas a metade do dia.

Agora sei que a faxineira é uma campeã
quando põe a luva
quando faz suco de uva
quando espana as teias de aranha
quando limpa a vidraça e não arranha.

A dona de casa merecia um troféu
quer dizer: Merece
enquanto não perece
com poeira entrando nas narinas
e limpa as lamparinas
com tanta perfeição
que eu não consigo
(não adianta mentir).

Estou empolgado
quando eu for advogado
delegado
ou talvez deputado
prometo lembrar das domésticas
que cuidam da limpeza
juntam do chão as fitas métricas
cozinham
cochilam
caminham
não se desanimam
(...)