Hoje faz uma década
Que estou preso nessa gaiola
Pedindo esmola
A um e outro
Para sobreviver
E não morrer
De fome.
Desde o dia em que me capturaram
Que fiquei longe da família
Nunca mais vi meus parentes
Estamos eternamente
Ausentes.
Nem choro mais de saudade
Por que as lágrimas secaram-se
As esperanças evaporaram-se
E restou-me o cárcere.
Aqui enfrento a solidão
Enfrento a dor no coração
São tantas ilusões
Que penso ser louco
Às vezes frouxo.
Deixei de ser vivo na prisão
Acho que sou um ser morto
Todo torto
Esperando o fim
Enfim
Não tenho recursos financeiros.
Apodrecer na cadeia
Isso deve ser o meu futuro
Pois as autoridades me esqueceram
Nem água trazem mais
Isto é demais.
Penso que não aguentarei mais esse fedor
Mal cheiro de vômitos, fezes e urina
Os colchões completamente fétidos
Os vermes passeando pelo chão
É de cortar coração.
Queria estar numa cela especial
Porém sou semi-analfabeto
Eu me chamo Beto
E mereço mesmo é uma sela
Para que os humanos montem-se.
O que mais me revolta
É saber que não tenho volta
Ou seja, eles me caçaram
Eles caçoaram
Sem dar o direito de defesa.
Lembro-me de quando amarraram as minhas asas
Amarraram os meus pés
Amarraram o meu bico
(para não fazer barulho)
E ainda puxaram minhas penas
- Ai... como doeu!
Gracias a Dios que... não me mataram
Não me assaram
Porém até agora não sei qual foi o crime
- Qual crime pratiquei?
Minha vida sempre foi de...
Construir ninhos
Gerar outros passarinhos
Cantar
Assobiar
Acasalar
Voar
Amar
(...)
Nenhum advogado surgiu para defender a minha causa
Nem sei como vai a minha casa
Só sei que nem canto mais
O sofrimento é demais
Nada me satisfaz.
Deixei de produzir ovos
Não vejo mais os povos
Que ova!
- Por que todo mundo que luta pelo bem é crucificado?
Por que o mal é glorificado?
Inocentemente jazo aqui atrás das grades
Enquanto os piores criminosos sorriem
Eles fazem chantagem
Ao ver a minha imagem
Virgem.
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário