O MITO

Conversam por aí
Todo dia
Acerca do mito
E não minto:
- Queria acreditar...

Preciso nascer de novo
Para poder crer em qualquer coisa
Pois o eu atual está meio que incrédulo
Perante uma sociedade destruída
Totalmente obstruída
Pela desonestidade
A corrupção do diabo.

Queria dar crédito ao mito
Dar uma pequena chance ao ser fictício
Não permanecer omisso
Diante à irrealidade
À falsidade
À fábula
Que me encabula
Que me enclausura
Com usura.

Eu não sou perfeito
Tampouco prefeito
Não minto
Procuro confiar no mito
E me demito
Caso seja traído
Ou subtraído
Nesse século.

Ando espiando a tradição
Cai muito em contradição
Até parece que estamos num labirinto
Ou melhor: num beco sem saída
Não minto
E os bebês gritam com medo
Das guerras que destroem o peito das mamães
As quais lhe dão leite.

Evito ideia falsa
Prefiro valsa
Antes de abraçar o mito
Eu admito:
- Sou desconfiado.

Acho que acreditarei mesmo no saci-pererê
Por que a imaginação nos engana
Ela promete grana
E no final de tudo nos esgana
Com lábia furada
E... quem sabe... irei ao mito
Com apoio.

Quisera eu estar no anonimato
Escondido em profundo mato
Talvez na mata atlântica
Mas só sei de uma coisinha:
"Eu e minha esposa que está na cozinha
Apertaremos a veracidade do mito
Com amplexo
Não perplexo".