Quantas águas se passaram
Quantas almas se aposentaram
Quantas bocas se calaram
Quantas vidas foram ceifadas
No passado.
Hoje estamos no futuro
Atravessamos o muro
Seguros.
O calendário de 2099 é do mesmo jeito do passado
Tem os mesmos meses
Tem os mesmos dias
As melodias.
O que mudou nesses oitenta e dois anos foi a pele das pessoas
Que envelheceram
Ao invés de rejuvenescerem.
O arco-íris é igual ao de antes
O parlamento prossegue idêntico
O horizonte é autêntico.
Em 2099 continuo rimando
Os leitores continuam brilhando
As flores preservam o perfume
Enquanto fotografo o vaga-lume.
Os carros flutuantes desfilam pelas pistas aéreas
Os marcianos estudam as eras
E nós pululamos
Ou festejamos.
Pouquíssima saudade de outrora
Poucas lembranças da aurora
Pois vivemos no século da prosperidade
Da austeridade
Da epistemologia.
Meu aniversário será numa sexta-feira
Dia dez de abril
(de dois mil e noventa e nove)
Quando a porta se abriu
E o sol surgiu.
Bem-vindos ao 2099
O ano campeão
Do panteão
Do coração.
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