CAÇA DE PALAVRAS

Papai sai com meu mano
entra mato a dentro
entra no vento
sente o ar nas ventas
correm atrás do tatu
que entra no buraco
correm atrás do jacu
que voa bem alto
correm atrás do preá
que foge...

Enquanto isso...
Eu dou uma carreira pra pegar as palavras
as quais parecem ficar escassas
elas fogem das massas
e deixam os escritores preocupados
desocupados
atropelados
desesperados.

Ando à procura de proparoxítonas
de paroxítonas
de oxítonas.

- Por que se escondem de mim?
Não gostam mais de mim?

Preciso de palavras que rimem
preciso daquelas que animam
aquelas que combinam
nos finais das frases
das estrofes
dos versos
aversos.

Ontem fiz uma tremenda perseguição
às monossílabas
às dissílabas
às trissílabas
às polissílabas.

Lembro que... Anteontem eu quis pegar
as parônimas
as homônimas
as sinônimas
as antônimas
as homófonas
as homógrafas.

Pensando sozinho eu deduzi que...
As palavras estão em extinção
elas estão fugindo para outra dimensão
elas estão acabando com o meu coração
de poeta
de atleta.

Tomara que as palavras jamais façam greve
senão em breve
ficarei bem leve
e sumirei de vez
por falta de inspiração
falta de cooperação
conexão
coesão.

Estou sem palavras
estou sem lábia
diante da comunidade sábia
de leitores
de escritores
de inventores
de navegadores
de amadores.

- Não posso parar
enquanto você está lendo
vou ali buscar a espingarda
que está bem guardada
para ir à luta
para ir à labuta
em busca de palavras
e... volto já
até lá.