sexta-feira, 9 de junho de 2017
A DESPEDIDA DA MÃE DE MAGNO
Magno era filho único
Perdeu o pai cedo
Sempre morreu de medo
De perder sua protetora
A sua genitora.
Com dez anos de idade
Sua mãe o aconselhava
Ela o preparava
Para algum dia
Deparar-se com a vida
Boa
Ou sofrida.
Foi numa sexta-feira
Que dona Emília recebera a notícia
Isto é, soube o resultado dum exame
Que constatara o caroço maligno
E passou a perceber como a vida é repleta mesmo de surpresas
- E agora? Como descobrir para o Magno?
Dona Emília vivia derramando lágrimas
Então o garoto começou a desconfiar
Ele às escondidas também estivera a chorar
Quase sem paradeiro
Molhava o travesseiro.
Magno passou a ter sonhos inéditos
As cenas constantes de epitáfios, túmulos, cruzes...
Deixaram-lhe com sentimentos tépidos
E via a mamãe gastando todos os créditos
Dialogando com médicos
Então crescia a insegurança
Mais e mais desconfiança.
Os dias se findavam
Cada capítulo era de ouro
Porém Magno ainda não sabia do terrível desengano
E sonhou novamente entrando pelo cano
Sem saber decifrar o arcano
Que o intrigava.
A senhora Emília chamou o amado filho para conversar
Só que ao invés de falar
Mais ficou a soluçar
E Magno se desesperou
Agarrou-se ao esqueleto materno
Disse que sonhara com as chamas do inferno
Não compreendeu nada
Todavia estava ciente
Que morreria com a mãe
Em qualquer situação.
O leitor sabe como é coração de mãe...
A meiga mãe revelou tudo para o seu herdeiro
O qual caiu no chão gemendo igual um cordeiro
Que não poderia receber notícia pior nas vésperas do aniversário
E até planejara guardar os presentes no armário
Que fica ao lado da máquina de lavar.
Mãe e filho...
Abraçados no chão da sala de estar
Ali não havia mais lugar
Para festejar
Para pular
Para dançar.
Magno se derramava
Emília se despedaçava
Magno se assoava
Emília se controlava
Quer dizer: Tentava.
Aos poucos... A mamãe do menino se despedia
Ela de dor gemia
Pois o câncer já estava avançado
Quando consultou-se já estava enraizado
Tudo chegava ao fim
Nenhum sim
Somente o fim
Fim.
Depois do sepultamento
Magno foi conviver com a tia chamada Livramento
Uma costureira do município de Sacramento
Localizado em Minas Gerais
E não na Califórnia.
Foram-se quatro anos da morte da guerreira Emília
Até hoje... Magno não se conformou
Não se controlou
O seu corpo se formou
A sua rotina se deformou
Pois viver nas casas dos outros nunca é como na casa da gente
Onde podemos bulir, ficar a vontade, pegar o pente
Escovar o dente
Tentar ficar sorridente
Sadio da mente.
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