quinta-feira, 24 de junho de 2021

TV FUNERÁRIA

 





Todos os moradores do país chamado Thyalpper

Deixaram de assistir as programações da TV Funerária

Que apresenta desgraças durante vinte e quatro horas

Que mostra as mortes de senhores e senhoras

Que divulga as misérias da população.


A TV Funerária enche a boca ao falar de desastres

Ela parece ter prazer em revelar catástrofes

Ou fatos horripilantes

Os quais nem ousarei colocá-los nessas estrofes

Nesses singelos versos.


O povão cansou-se de notícias macabras

De assassinatos de cabras

De acidentes monstruosos

De covas dos orgulhosos.


A nação de Thyalpper

Enjoou-se de velórios

De caixões

De urnas

De velas

De catacumbas

De tumbas.


No final de semana

O pessoal ligava a tela

Lá estavam os quinhentos mil de defuntos da covid

Lá estavam os cadáveres expostos 

Lá estavam os coveiros

Os serviços grosseiros

Os agoureiros.


Nem os feriados escaparam

Pois a TV Funerária jamais perdeu tempo

Quando se fala de sepultamentos

De cemitérios

De mistérios

De assombrações

De alucinações

De finados.


A TV Funerária já era

Por que agora o telespectador

Acordou

Do sono da negligência

Do sono da alienação

E reina a impaciência

Diante à pandemia.


Chega de túmulo

Chega de doença

De ambulância

De ganância

De hospital 

De óbito

De vírus

Em Thyalpper.


A nação está vacinada

Todos pegam o controle

Não ligam

Ligam

Desligam.


Quem vai usar mortalha é a TV Funerária

A qual será uma ossada

Talvez uma múmia

E o leitor por nome de Epitácio

Disse que irá visitá-la

A fim de ver o epitáfio.




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