Eu me chamo Suzana Moura
estou enjoada da vida
eu cansei de viver
acho tudo um saco
o dia-a-dia é chato
sem graça.
Abandonei meus estudos
pedi as contas no trabalho
quero me isolar
amizades evitar
somente me trancar.
Detesto a rotina
todo dia a mesma coisa
a monotonia
a mesmice
a tolice.
Os papos das pessoas me enfezam
não aguento mais o cotidiano
passa ano
vem ano
nada muda.
Só se fala em coronavírus
isso me incomoda
odeio falar de moda
eu vou me reservar
com ninguém pretendo mais falar.
Meus pais afirmam que estou depressiva
os sintomas confirmam o pensamento deles
os sintomas falam mais alto
só que não estou nem aí
deixarei de andar pelo asfalto
pois morro de medo do assalto.
A programação da TV é um porre
sinto nojo da propaganda enganosa
fecho o ouvido pra política
eu ainda sou crítica
e detesto quase noventa e nove por cento
do conteúdo midiático.
Deixei de lado a internet
dei adeus aos jogos
dei adeus aos navegadores
eu... me desfiz das redes sociais
fui obrigada a bloquear amigos (as)
que agora parecem inimigos.
Tudo o que eu amava realizar na vida
abandonei de vez
não tenho mais prazer
foi-se o lazer.
Deixei de telefonar
digitar
paquerar
caminhar
surfar
passear
viajar
lanchar
(...)
Virei matuta
caipira
e agora me esconderei do mundo
do Raimundo
do vagabundo.
É uma luta pra tomar banho
pra escovar os dentes
pra passar a fita dental
é o meu mal.
Acabou-se o que era bom
não sorrio mais pra vida
batalho pra curar uma ferida
no espírito
na alma.