Em meio a plantação de milho e feijão
pude descobrir um gafanhoto
talvez canhoto
que comia a folha
e bebia a bolha
de água
da chuva.
Ao perceber minha presença
o senhor gafanhoto tentou fugir
pensou que eu fosse lhe destruir
como fiz outrora
ou seja, cheguei a arrancar asas
pernas
braços
de seus
parentes.
Fui chegando mais pra perto dele
ele se encolheu todinho
morri de dó
lembrei que sou pó
e estudei o pobre inseto
tão indefeso.
Olhei bem fundo em seus olhos
eu o encarei
porém, o gafanhoto baixou a crista
não cantou mais
ficou tristonho
diante o meu tamanho
o poder da estatura
da criatura.
Confesso que comecei a chorar
tive pena demais do gafanhoto humilde
o gafanhoto desarmado
o pequeno invertebrado
o qual se esconde entre a folhagem verde
como se fosse um gigante
ou pesado elefante.
Perante a simplicidade do grilo
com perfil de corajoso
tornei-me invejoso
isto é, desejei ser um descendente
um gafanhoto coerente
que enfrenta um monstro
sem instrumento bélico.
Imaginei o gafanhoto tranquilo
ele não se preocupa
não tem culpa
não tem dívida
não tem dúvida
(...)
Vida boa
é vida de gafanhoto
que não prega um prego na barra de sabão
e não falta macarrão
nem pão
pra comer
com os filhotes
os fanhotinhos.
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