Não consigo mais andar à vontade
foi-se a liberdade
e alguém me vigia
durante o dia
durante vinte e quatro horas
em todo lugar
nem posso amar
nem disfarçar
que a câmera brilha
igual vaga-lume.
Ainda que eu ponha a máscara
imite o engraçado palhaço
algum olhar me incomoda
pois está na moda
e nem posso fugir
nem fingir
quando somos ga-do
marcados
frustrados
(...)
Sei que sei inúmeras coisas
entretanto vivo como robô
ingerindo cocô
enquanto uma minoria se diverte
pondo a pior peste
um teste
de vida
ou morte
que dar
má sorte.
Um olho
tomou de conta do globo
o qual virou lobo
agora é bobo
alienado
adoentado
atrapalhado.
Diga-me o continente terrestre que é virgem
isto é, que não é monitorado
que não é filmado
controlado
abitolado
atolado.
Não há espaço físico para fuga
eu e você somos olhados
queiramos ou não
lá está o olhão
vendo tudo
até o tubo
de linha.
Saudades eternas tenho da ingenuidade
da época da puberdade
quando brincava sem pensar
quando não sabia desenhar
um olhar
controlador
ditador
- Que horror!
Dar pena
vê o mundo cambaleante igual bêbado
os homens com seus bulbos enlouquecidos
os seres esquecidos
pela visão geral
do mal.
Eu confesso que melhor mesmo é partir
do que andar na mira das garras dum leopardo
o pior detetive
um declive
um deslize
(...)
Tomara que desça logo o Yeshua Hamashia
a fim de implantar
o Reino Milenar
de real paz
como nunca houve
- Ouves?
Agora mesmo sinto-me inseguro
em meu próprio casebre
pois alguma lebre
filma o ar que respiro
expiro
inspiro
sem jeito
sem peito.
Estou sendo filmado
porém não sorrio
não rio
não.
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