O rico nem sabe onde guardar dinheiro
esbanja toda hora
zomba d'alguma senhora
ora... ora...
O pobre nada tem em seu armário
nem pensar no perfume da Boticário
passa fome igual jumento na época da seca
pula cerca
não consegue alimento
só aborrecimento.
A médica consulta pacientes
depois vai charlar
grana gastar
com os familiares
em chiques lugares.
O doente toma medicamento
saúde somente no pensamento
geme de dor
tem mau odor
esperneia
grita.
O agricultor só sabe capinar mato com enxada
a mão tem calo
fica inchada
a pele está ferida
devido ao raio solar
que quer lhe matar.
O palhaço tenta esconder-se da vida real
a sós passa mal
não se acha normal
lágrimas caem
pensa em viver de verdade
foge da sinceridade
foge da sociedade.
A bêbada fala um monte de besteira
cai de perna para cima
dorme no meio da avenida
sua alma vive esmorecida
e quando volta ao estado de antes
enfrenta a ressaca
sente vergonha.
O pescador cochila segurando a vara
o anzol é puxado
a isca desliza
o peixe foge
não alisa
vem a brisa
vem a necessidade
filhos famintos
e nada
no rio
(...)
A faxineira usa máscara pra evitar poeira
a patroa pede pra ela pegar a chaleira
a patroa manda passar as roupas
a patroa manda lavar outras roupas
ordena que limpe o guarda-roupas
e assim... a coitada faz papel de escrava
que recebe apenas setenta reais.
O político defende seu próprio interesse
o povo só tem vez nas próximas eleições
ele vota contra o bem estar social
ele veta a educação pública
ele é um sepulcro caiado
é gaiato.
A velhinha abandonada no asilo
lá ela tem abrigo
lá tem proteção
mas... sente aperto no coração
é a saudade dos parentes
os quais se foram
deram o endereço errado
algo amaldiçoado.
O mendigo estende a mão na esquina
já tentou o prêmio da Quina
porém sofreu decepções
mora agora com escorpiões
com baratas
com ratas
com latas
de lixo.
A professora pede a Deus paciência
tenta ensinar bem a Ciência
todavia é difícil lecionar pra quem não quer
ela pensa em dar no pé
e tem fé
que mudará de profissão
quem sabe pra dirigir caminhão...
Eu amo o que faço
adoro escrever
e feliz fico ao te ver
lendo
lendo
a lenda
a parlenda
sem contenda
debaixo da tenda.
O leitor é importante demais
enquanto ler sempre quer mais
come duas páginas
consome cinquenta
depois cento e noventa
e assim vai.
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