Não sei por que o dia está desanimado
Até o sol está descorado
As nuvens intimidadas
O vento parado
O oxigênio minado
[...]
O sol quase apagado
A luz envergonhada
O tempo fracassado
A vida atrofiada
[...]
O dia permanece triste
Como se algum pedaço do viver
Fosse machucado
Ou furtado.
Queria achar a chave da porta do dia de hoje
Descobrir o motivo da tristeza
Saber com certeza
Por que as flores estão murchas
E seus perfumes vencidos.
Tomara que amanhã seja um dia alegre
Que a lágrima transforme-se em riso
Que o choro venha a ser festa
Que haja prazer em cada testa
[...]
Pensei que os dias tristes tivessem fim
Portanto acabo de sofrer um dia desses
E nem sei se terei forças para suportá-lo
Enquanto me derramo por dentro
Por causa do próximo.
Que dia triste! Meu Deus!
Dar a ligeira impressão de que... arrancaram uma partícula de mim
E logicamente encontro-me ferido
Por dentro
Não aguento
Quero unguento.
Jamais estive tão defasado
Estou sentindo o pior aperto no espírito
Algo que não quer me deixar em paz
Mas... procuro me solidarizar com o próximo
Que perde átomos.
Quisera eu poder me colocar em seu lugar
Sentir a dor
Sentir a dor
Sentir a dor
Até me conformar
Até me calar
Por amor.
Esse dia triste talvez seja o maior de toda a minha vida
Pois ele começou
E não quer mais terminar
Quando já são doze da noite
Então... pego o lenço
Faço silêncio
Ouço gemidos
Que vêm lá do porão.
- Oh! My God!
Como pode?
Alguém sequestrar a alegria atual
Deixar o dia tristonho e anormal
Para que venhamos baixar a crista
Numa vida mista?
Preciso de um ombro amigo nestas horas de desespero
Preciso de um prato com tempero
Preciso me fortificar
Pois estou frágil
Tão fraco
Que nem enxergo o caminho
Onde você anda com carinho.
Pensei que hoje fosse uma data comemorativa
Um momento festivo
Um instante afetivo
Todavia solto rios d'água das pálpebras
Dói-me terrivelmente as vértebras
Como se os demônios me chicoteassem
Como se as feras mordessem minhas orelhas
E raspassem as sobrancelhas.
Ai que dia melancólico!
As virgens sentem dor de cólica
Os mancebos brincam com energia eólica
Os médicos se aperreiam ao ver a paciente partindo
Os corações se achegam por laços amorosos
E assim somos entrelaçados
Jamis desgrudados.
A perca angelical
Também causou meu mal
E me ajoelho
Dói o joelho
Clamo a Deus
Ele me ouve
Ele me consola
Te consola
Levo sola.
- Por que as pétalas são efêmeras?
Por que as sépalas não são eternas?
Hein!?
Bem poderíamos ficar na sala-de-estar
Felizes e prontos para voar
Subir nas tempestades
Acima das cidades
Sorrirmos com o mundo todo
Mas... vem o sentimento fúnebre
Vem a febre
Rouba a liberdade
Com sinceridade.
Lamentavelmente meus olhos se desfiguram
Seus olhos pedem socorro
Eu corro
Porém nada faço
Pois sou homem
Sujeito as mesmas intempéries
Que arregaçam nossa mente.
Preciso de um quarto tranquilo
Preciso perder mais um quilo
Quando me acabo de chorar
Em meio ao clima de enlutar
Devo lutar
Nesse dia enluarado
Dia triste.
Se eu pudesse colocaria meu rosto em teu ombro
Teu ombro em meu rosto
E com gosto
Procuraríamos o conforto
Lá no horto
Lá no porto
Seguro
Longe de...
Apuros.
Já penso em ti depois de amanhã
Numa linda manhã
Feliz ao lado do Santo Espírito
Aquele que alivia interiormente
E sara a mente
Planta a semente
Do regozijo.
Seu sofrimento é também meu
Não posso ficar alheio
Mas... permaneço aqui pelo meio
Às vezes um pouco metido
Com o coração partido
Tão ferido
Após a perda da essência
Que viverá na dormência
Perante o tribunal
O Juízo Final.
Eternidade é coisa de estudar-se
Com cautela para não endoidar
A bola virar
Besteira soltar
Na hora do drama
Caio na cama
Por cima dum ramo
De samambaia.
Dia triste
Ele irá
Jamais voltará
Para enfernizar
A felicidade
Que nos enlaça.