Veio-me à lembrança de certa vez quando a professora Vera
Pediu-me para escrever dez linhas
Ou seja, uma redação sobre as galinhas
As quais gostam de ciscar
E de bicar.
Quando a tia Vera me entregou a folha de papel almaço
Confesso que surgiu a vontade de dar-lhe um belíssimo amasso
(No papel... Não leve pro mundo da maldade...)
Fiquei perdido igual cego em meio a tiroteio
A folha transformou-se na grande São Paulo
As linhas eram os bairros
E tropeçava eu nos carros
Sem saber aonde ir.
Peguei o lápis
Peguei a caneta
Tentei rabiscar
Tentei rascunhar
Só que nada saía.
Errei o suficiente para passar a borracha
Passar corretivo
E era teste para o final de ano letivo
Por isso veio-me o maior nervosismo
O medo de chegar em casa
Pegar castigo
Ao receber nota baixa.
Faltavam apenas quinze minutos para terminar a prova
A mestra Vera quis ver o que eu escrevera
Então escondi a lauda com as mãos
Ela teve de tomar uma decisão
Isto é, tomou a folha contra a minha vontade
E disse que faltava-me responsabilidade.
Dona Vera pensava que fosse fácil redigir
Se ainda hoje me perco no país da escrita
Imagine naquela época
Quando eu agia sem refletir
Sem sentir...
O leitor deve entender a mensagem
Sabe o quanto é espinhoso narrar ou encher uma folha
A gente escreve
Apaga
Escreve
Borra
Apaga
Borra
Apaga.
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