RECLAMANDO DE BARRIGA CHEIA

- Mãe! Comer ovo novamente?
Não aguento mais
Quero alimento diferente
Meu estômago está carente.

A mãe responde:
- Filho! Deixa de ser ingrato
Por que lá no Crato
Conheço meninos da sua idade
Que não têm ovo no prato
Comem apenas caldo de feijão com farinha
E nem pensar em churrasco de galinha...

- Mulher! Estou enjoado de bife
Vê-se muda o cardápio
Por que não sou larápio
Pra aguentar o mesmo prato
Por detrás das grades.

A esposa responde:
- Homem! Deixa de murmuração
Se tu vê a situação
Do povo lá do sertão
Vai doer teu coração
Vais mudar de opinião
Dizer que eu tenho razão
Quando vivem de esmolas
Ao enfrentar a seca
A falta de pão
A escassez de água.

- Pai! Estou enjoado de leite com café
Prefiro chimbé
Do que viver tomando a mesma coisa todo dia
Até parece que estou pagando promessa
Parece que estou de castigo
E tenho pressa
Na mudança de lanche.

O pai responde:
- Meu filho! Dê graças a Deus pela merenda
Levante as mãos pros céus
Por que você tem pelo menos isso
Pois as crianças africanas não têm nada disso
Comem areia
Comem barro.

Reclamamos do alimento repetido
Por que não conhecemos o povo sofrido
Que vive só o couro e os ossos
Sem vitamina
Sem baunilha.

Quando a gente está com fome
E não tem nada pra consumir
Dar vontade de sumir
Dar vontade de arrancar os cabelos da cabeça
Pra comer
Pra não morrer
Pra não correr
Doido.