- Você já passou fome na vida?
Você já arrancou a casca da ferida?
Você já reclamou do ovo posto à mesa?
Você já zangou-se com a sobremesa?
A criança africana come argila
Ela com fome cochila
Sem iguaria
Sem alegria.
É um inocente menino que boceja
Um bocejo faminto
Por dentro um labirinto
Onde a digestão se assusta
Em ter que trabalhar com barro
Tão bizarro.
É uma ingênua menina que denuncia
Faz a denúncia com os olhos
Onde vemos os buracos
Parece que os órgãos saíram da caixa
Por falta de graxa
Não relaxa
Diante a desgraça.
A criança lentamente desaparece
Ela de doença perece
Nem com gente parece
- Será que merece?
Acredito em ventos de mudanças
Creio no rendimento das poupanças
Espero que algum dia encham as panças
Com bonanças
Com finanças.
Que futuramente os esqueletos criem músculos
Assim como o Vale de ossos secos
Os moleques africanos deixem os becos
Nasça carne nos queixos
E consigam sobreviver
No barco a deriva
- Viva!
Isto aqui não é história da carochinha
Isto é verídico
É o povinho raquítico
Que sofre calado
A falta de alimento
A falta de sentimento
Aliada ao preconceito
Sempre eleito.
Sei que são os devaneios da vida
Entretanto não é utopia
Quando foge a filantropia
E dar espaço ao acaso
Dar lugar ao descaso
Ao verdadeiro caos
Dos dominadores maus.
É difícil ver uma criança negrinha
Tão magrinha
Morrendo de fome e...
Mordendo os cabelos da própria cabeça
A fim de que seu estômago não pereça.
Não é brincadeira, não
Quando temos tudo na mão
Desprezamos nossos irmãos
Negamos pedaços de pão
Enquanto alguém come o amassado pelo cão
No segundo continente mais populoso
Onde predomina a sequidão
A condenação.
Já que não posso ir até lá
Pelo menos penso neles aqui do meu lar
Tentando a todos conscientizar
Do descaso africano
O maior engano.
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